Soterramento dos solos de nascentes 20/08/2021 - 12:41
Gustavo Ribas Curcio1, Mauricio Kacharouski2, Marlon Antônio Debrino2
Com o advento da agricultura nas últimas décadas, as paisagens da região Oeste do Paraná foram fortemente alteradas, principalmente, pela retirada da floresta, ou pelos processos erosivos que ocorreram e ainda ocorrem nos sistemas agrossilvipastoris.
As planícies fluviais e suas nascentes, certamente, são as áreas que mais foram penalizadas nesta alteração sob o contexto erosional. Muitas nascentes identificadas e pesquisadas pelo PronaSolos PR acusam desequilíbrios de grande impacto, dentre os quais a presença da fase de soterramento, em diferentes intensidades, proporcionando mudanças ou mesmo perdas de funcionalidades ecológicas dos solos destes segmentos de paisagem (Figuras 1 e 2).
Como se sabe, a fase soterrada é identificada pela sobreposição de sedimentos sobre o horizonte superficial de um determinado tipo de solo, normalmente, atestando a última fase do processo de erosão que aconteceu a montante – destruição das partículas superficiais – transporte – deposição.
A identificação desta fase em superfícies localizadas à jusante é muito importante, pois atesta procedimentos de uso e manejo em solos à montante. Como consequência, as camadas e/ou lentes deposicionais que constituem o soterramento alteram as características originais dos solos situados em planícies e em nascentes, a exemplo, textura, porosidade, pH entre muitas outras, descaracterizando algumas dinâmicas evolutivas essenciais destes ambientes, como as trocas gasosas, a imobilização de carbono, a infiltração/retenção de água, resguardo de fauna e flora específica etc.
Sob o ponto de vista da cobertura de vegetação, dependendo da espessura da camada de soterramento, verifica-se uma mudança completa da ocupação por plantas, com ampla mortalidade de espécies e, não raramente, expressiva perda de resiliência ambiental.
O processo de soterramento pode ser minimizado combatendo-se a erosão em solos de encosta através de usos compatíveis com a aptidão ambiental, ou ainda, por meio das práticas de manejo em culturas, seja sob o ponto de vista mecânico – plantio em nível sobre palha (Figura 3), terraceamento (Figura 4), subsolagem, culturas escalonadas etc – bem como através de práticas biológicas – densidade de plantio, culturas escalonadas, alternância anual de culturas, presença de Áreas de Preservação Ambiental efetivas, entre outras.
A proteção e até mesmo a preservação dos solos das planícies e daqueles que circundam as nascentes, independente das distâncias, é fundamental, tendo em vista que a manutenção de funções originais dos diferentes tipos de solos interfere diretamente na estabilidade de um bem essencial – o recurso hidrológico (Figuras 5 e 6).
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
3 – Técnico da FAPED – mkacharouski@gmail.com
4 – Técnico da FAPED – marlon_debrino@hotmail.com