ANTROPOSSOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III – curiosidades e fragilidades.
Gustavo Ribas Curcio1, Andrei Luan Petry2, Mauricio Kacharouski2, Marlon Debrino2
Os Antropossolos são volumes que resultam da ação direta do homem em diferentes tipos de solos transformando radicalmente as características destes (Figura 1), consequentemente a composição e o processamento ambiental. Essa interferência, na maioria das vezes executada de forma desordenada, acaba por criar condições físicas, químicas e biológicas totalmente distintas das características originais dos solos, restritivas ao uso e adversas à resiliência.
A maior parte dos registros desses volumes se verifica em perímetros urbanos e periurbanos, e deve-se a introdução de elementos atípicos aos solos, ou apenas a movimentação ou a retirada – total ou parcial - dos horizontes dos solos para construção de edificações.
Na Bacia Hidrográfica Paraná III – BHPIII - há o predomínio de dois tipos de Antropossolos. Aqueles que devido à mobilização de horizontes dos solos há a formação de depósitos constituídos por camadas totalmente desordenadas e aqueles em que se verifica a retirada total ou parcial dos horizontes dos solos, respectivamente, nominados por Antropossolos mobílicos (Figura 2) e decapíticos (Figura 3).
Em perímetros rurais também se identificam estes volumes, porém em extensões territoriais muito pequenas, impossíveis de se obter o registro nos mapas de solos que estão sendo efetuados nesse projeto – PronaSolos-PR - em razão da incompatibilidade de escala – 1:50.000.
A despeito do não registro cartográfico, para informar ao produtor rural e aos técnicos da região, é pertinente citar as localizações mais habituais nas paisagens rurais da BHPIII, bem como algumas de suas características.
Embora estes volumes estejam sendo identificados em várias posições na paisagem, predomina a origem relacionada ao contexto operacional de pedreiras e tanques de piscicultura, com a prevalência de localização em terços inferiores de rampa ou em planície propriamente dita.
Para todos os casos identificados, as ações conferem grande fragilidade ambiental, com perdas relevantes no que se refere às funcionalidades ecológicas. A falta de planejamento nas ações de movimentação ou retirada dos solos acarreta grandes volumes de sedimentos para rios e nascentes, com consequências graves para a dinâmica hidrológica fluvial (Figura 4), flora e fauna correlatas.
Nas paisagens desenvolvidas sobre rochas vulcânicas foram escolhidos quatro locais que pudessem representar os Antropossolos mobílicos. Nestes foram feitas amostragens em duas profundidades: superfície (0-20) e subsuperfície (30-50 ou 40-60). Morfologicamente foram observadas composições totalmente desorganizadas, com estruturas muito alteradas variando de compacta (bloco e laminar) a desestruturada, ambas altamente sujeitas ao processo erosional.
De acordo com a espessura dos volumes e as respectivas localizações, foram registrados contrastes importantes no que se refere a remoção de água desses depósitos. Assim, a despeito da sempre presente baixa permeabilidade, identificaram-se volumes bem drenados, mais afastados da planície, a imperfeitamente drenados – na planície (Figura 5). Essa informação é muito importante e deve ser levada em conta pelo produtor interessado em promover ações que visem recuperar a área, pois para a indicação de plantas a serem utilizadas, os níveis de oxigênio presentes nos poros dos volumes prevalecem sobre as características químicas.
Na tabela abaixo encontram-se alguns resultados analíticos referentes ao complexo sortivo e aos teores de argila correspondentes aos Antropossolos Mobílicos – A.M.
Tabela 1 - Características do complexo sortivo e teores de argila de Antropossolos Mobílicos – A.M. - da BHPIII.
Conforme pode ser observado na tabela, há o predomínio de texturas muito argilosas, fato comum quando se tem rochas vulcânicas como substrato de origem.
Quanto às características químicas, identifica-se o caráter eutrófico (V ≥ 50% - alta saturação por bases) e o distrófico (V < 50% - baixa saturação por bases) principalmente em razão da origem trófica dos solos que lhes originaram. Quanto maior o T (capacidade de troca catiônica) e o V (saturação por bases), maior o grau de resiliência ambiental, ou seja; mais rápido o desenvolvimento das plantas, o que permite antecipar funções ecológicas.
Chamam a atenção os teores de carbono nas camadas superficiais dos Antropossolos, com tendência a serem maiores quanto maior o piso altimétrico, condição importante para promover a reconstrução de estruturas mais desenvolvidas das camadas, facilitando a troca gasosa, a penetração/distribuição de raízes e a infiltração de água.
Em alguns Antropossolos mobílicos, moderadamente a bem drenados, foram identificadas algumas arbóreas, de caráter pioneiro dentro do contexto sucessional da floresta, com forte desenvolvimento e alto grau de ocupação. Dentre essas, sobressaem a embaúba (Cecropia pachystachya Trécul), o capororocão (Myrsine umbellata Mart), a crindiúva (Trema micrantha (L.) Blume), o tapiá (Alchornea triplinervia (Spreng.) Mull.Arg.) e o ingá (Inga vera Willd.), dentre outros exemplares.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
2 – Técnico do PronaSolos Paraná – andrei_luan_petry@hotmail.com
2 – Técnico do PronaSolos Paraná – mkacharouski@gmail.com
2 – Técnico do PronaSolos Paraná – marlon_debrino@hotmail.com