ARBÓREAS NATIVAS E SEUS EFEITOS ORNAMENTAIS NA PROPRIEDADE RURAL DA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III

Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet1, Mauricio Kacharouski2

 

Toda propriedade rural possui uma ou mais características que a torna única, e isso ocorre em função da presença de atributos naturais como florestas, rios, nascentes, montanhas e outros, interpostos por edificações, pastos, lavouras, povoamentos florestais etc.

O uso e conservação desse conjunto determina um valor físico reconhecido para a propriedade. Contudo, alguns elementos de embelezamento como a árvore, por exemplo, podem ser incorporados à essa, que além de conferirem maior encanto podem proporcionar maior valor e apreço.

O plantio de arbóreas nativas na propriedade pode ocorrer tanto em sistemas de produção – sistemas florestais, agroflorestais, pomares, assim como para a conservação e preservação de funções ecológicas vitais, a exemplo, em margens de rios e no entorno de nascentes.  Além disso, através da jardinagem e do paisagismo, a árvore pode colaborar para o maior embelezamento da propriedade, sobretudo, se o planejamento da inserção das espécies considerar a possibilidade de obter“florações consecutivas” durante a maior parte do ano. Então, de janeiro a dezembro, a propriedade apresentará grupos de árvores com flores, ornamentando com cores diferentes os sítios rurais. Nesse caso, além desse efeito, haverá a regalia de se ter o convívio da fauna próximo as edificações, além de projeções de sombras, menores amplitudes térmicas, função quebra-vento, função de anteparo à pulverização de agrotóxicos como fungicidas, inseticidas etc.

 

Figura 1 - Raízes de Luehea candicans.
Figura 1 - Raízes de Luehea candicans.

 

 

Durante as ações do PronaSolos-PR na Bacia Hidrográfica Paraná III foram observadas poucas propriedades que utilizam as árvores nativas de forma planejada no que se refere ao potencial de floração existente para a região. Deve ser destacada que a unidade fitogeográfica prevalecente para a citada bacia – Floresta Estacional Semidecidual – oferece um leque amplo de possibilidades para o planejamento de plantios de arbóreas nativas, favorecendo o paisagismo que se integra e harmoniza com a fauna e a paisagem da região. Destaca-se que para se obter o arranjo de plantas idealizado, além das cores das flores, devem ser considerados o tamanho e a forma da copa das árvores, altura de inserção dos galhos, bem como a característica de projeção superficial de raízes (Figura 1). As espécies de árvores também podem ser avaliadas e selecionadas em função das características mais adequadas para o crescimento de plantas epifíticas, que são aquelas plantas que crescem sobre os galhos e troncos das árvores, como aráceas (Figura 2), orquídeas, cactos, bromélias samambaias entre outros. Casca rugosa que não se desprende e galhos robustos que assumem posicionamento mais horizontal são características das árvores que favorecem o desenvolvimento dessas plantas de grande beleza ornamental (Figura 3).

Figura 2 - Thaumatophyllum bipinnatifidum.
Figura 2 - Thaumatophyllum bipinnatifidum.

 

Figura 3 - Aechemea distichantha.
Figura 3 - Aechemea distichantha.
 

Considerado esses quesitos, o próximo passo é identificar os locais da propriedade em que se pretende efetuar a introdução de árvores e os respectivos “desenhos de enquadramento”, que definem o número de plantas e espécies. De acordo com a condição desejada podem-se fazer plantios isolados, em blocos com diferentes formas, em linhas, agrupamentos esparsos ou adensados etc.

Na tabela 1 há uma lista de árvores nativas que podem ser utilizadas para o planejamento de uma floração consecutiva na propriedade rural da Bacia Hidrográfica Paraná III, devendo-se considerar que pode haver alguma variação em função da localidade dentro da Bacia.

Assim, utilizando-se como exemplo as árvores acima citadas, pode-se planejar o plantio de árvores para a entrada da propriedade, em cada lado da porteira, com boa copada e floração exuberante, a exemplo, os ipês-amarelos e ipês-roxos, canafístulas, ou espécie de menor porte, porém, igualmente vistosas – as caliandras.

Para a alocação de árvores nas estradas de acesso e internas da propriedade pode-se planejar a disposição linear de árvores de grande ou pequeno porte, considerando inclusive a área disponível, os usos adjacentes às estradas e a disposição da mesma na paisagem. Contudo, é importante que estas plantas tenham inserção de galhos alta. Para planejar o espaçamento entre os indivíduos, o ideal é saber o raio de ocupação das copas para evitar que essas se toquem. Como exemplo, pode ser usado o ipê-amarelo alternando com o jerivá (Syagrus romanzoffiana), não citado na lista anterior por tratar-se de uma palmeira. O jerivá, enquanto indivíduo adulto bem desenvolvido, ocupa um espaço físico de 3 metros de raio e o ipê-amarelo de 5 a 6 metros.

 Caso o objetivo seja uma combinação de floradas mais diversificada para a estrada de acesso da propriedade, sugere-se: jerivá + louro-pardo + ipê-roxo + louro-branco + ipê-amarelo + caroba + canela-amarela + canafístula. Deve-se ter em mente que tanto a canafístula como o ipê-roxo podem alcançar raio de copa de 7 a 9 metros, enquanto o louro-pardo e o louro-branco, em média, podem ter 5 a 7 metros, canela-amarela em média de 5 a 6 metros, ipê-amarelo e caroba em torno de 4 a 5 metros.

 

Tabela 1 – Época de floração de espécies arbóreas nativas da Floresta Estacional Semidecidual, Bacia Hidrográfica Paraná III.

* preferencialmente plantada em solos bem drenados; ** pode ser plantada em solos bem drenados até com pequeno grau de umidade; *** preferencialmente plantada em solos encharcados.
* preferencialmente plantada em solos bem drenados; ** pode ser plantada em solos bem drenados até com pequeno grau de umidade; *** preferencialmente plantada em solos encharcados.

 

 

Figura 4 - Machaerium hirtum.
Figura 4 - Machaerium hirtum.
Figura 5 - Bauhinia uruguayensis.
Figura 5 - Bauhinia uruguayensis.
Figura 6 - Ceiba speciosa.
Figura 6 - Ceiba speciosa.

 

Figura 7 - Heliocarpus popayanensis.
Figura 7 - Heliocarpus popayanensis.

 

Figura 8 - Handroanthus heptaphyllus.
Figura 8 - Handroanthus heptaphyllus.

 

Figura 9 - Aloysia virgata.
Figura 9 - Aloysia virgata.

 

 

Figura 10 - Handroanthus chrysotricha.
Figura 10 - Handroanthus chrysotricha.

 

Figura 11 - Schizolobium parahyba.
Figura 11 - Schizolobium parahyba.

 

 

Figura 12 - Tabernaemontana catharinensis.
Figura 12 - Tabernaemontana catharinensis.
Figura 13 - Erythrina crista-galli.
Figura 13 - Erythrina crista-galli.

 

Figura 14 - Peltophorum dubium.
Figura 14 - Peltophorum dubium.
 

Para proporcionar sombra para o estacionamento, dependendo do número de veículos, podem ser criados blocos (quadrados ou triangulares), tendo em conta a máxima permanência das folhas da espécie durante o ano. O espaçamento idealizado deverá estar em coerência à forma e ao tamanho da copa. Como exemplo, podem ser usados os plantios mistos ou homogêneos. O angico-vermelho (Parapiptadenia rigida) possui forma de copa muito própria para esse fim, embora sua florada não seja exuberante, sua copa pode atingir até 8 metros de raio. Podem também ser usados arbóreas de menor porte como os ingás e a canela-de-veado.

Se houver área disponível na propriedade, um pouco antes da sede, pode ser planejada a presença de um pórtico com as próprias árvores constituindo o “efeito-pilar”. Para isso, o louro-pardo, com sua floração abastada e fuste retilíneo, ou mesmo a floração alaranjada da corticeira-da-serra, podem resultar em um ótimo efeito ornamental. As podas são importantes para a condução de fuste alto, pois determinarão a altura da primeira inserção de galhos, evitando transtornos para o trânsito de veículos e máquinas.

Por outro lado, próximo a sede, devem ser evitadas árvores muito altas em razão da queda de galhos. Sendo assim, o uso da pata-de-vaca constitui uma boa opção em razão de seu porte médio, com copada média de 3 metros de raio. Para esse fim ainda pode ser pensado no uso de forquilheira, ou mesmo agrupamentos de caroba. A edificação de pergolados próximos a sede é uma boa opção e, para esse caso, pode ser utilizado a primavera (Bougainvillea spectabilis), dada suas características de floração e condução.

Para pontos de demarcação das divisas das propriedades podem ser usadas espécies de copa alta, as quais permitam fácil identificação à distância. Sugerem-se plantios que conformem agrupamentos de plantas que fiquem protegidas, evitando queda devido aos ventos fortes. Agrupamentos de dois ipês, como o amarelo e o roxo, entremeados por paineiras podem gerar o efeito desejado.

Sem dúvida, os efeitos de paisagismo alcançado pelo uso das árvores são magníficos e incontestáveis ficando a criação por conta da sábia imaginação dos proprietários rurais.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br

3 – Técnico do PronaSolos Paraná – mkacharouski@gmail.com

GALERIA DE IMAGENS

  • Erythrina crista-galli.
    Thaumatophyllum bipinnatifidum.
    Raízes de Luehea candicans.
    Aechemea distichantha.
    Machaerium hirtum.
    Ceiba speciosa.
    Bauhinia uruguayensis.
    Heliocarpus popayanensis.
    Handroanthus heptaphyllus.
    Handroanthus chrysotricha.
    Aloysia virgata.
    Tabernaemontana catharinensis.
    Schizolobium parahyba.
    Peltophorum dubium.
    Erythrina crista-galli.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Thaumatophyllum bipinnatifidum.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Raízes de Luehea candicans.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Aechemea distichantha.
    Foto: Annete Bonnet

    Foto: Annete Bonnet
    Machaerium hirtum.
    Foto: Mauricio Kacahrouski

    Foto: Mauricio Kacahrouski
    Ceiba speciosa.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Bauhinia uruguayensis.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Heliocarpus popayanensis.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Handroanthus heptaphyllus.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Handroanthus chrysotricha.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Aloysia virgata.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Tabernaemontana catharinensis.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Schizolobium parahyba.
    Foto: Mauricio Kacharouski

    Foto: Mauricio Kacharouski
    Peltophorum dubium.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
  • Figura 14 - Peltophorum dubium
    Figura 13 - Erythrina crista-galli
    Figura 12 - Tabernaemontana catharinensis
    Figura 11 - Schizolobium parahyba
    Figura 10 - Handroanthus chrysotricha
    Figura 9 - Aloysia virgata
    Figura 8 - Handroanthus heptaphyllus
    Figura 7 - Heliocarpus popayanensis
    Figura 6 - Ceiba speciosa
    Figura 5 - Bauhinia uruguayensis
    Figura 4 - Machaerium hirtum
    Figura 3 - Aechemea distichantha
    Figura 2 - Thaumatophyllum bipinnatifidum
    Figura 1 - Raízes de Luehea candicans
    Figura 14 - Peltophorum dubium
    Figura 13 - Erythrina crista-galli
    Figura 12 - Tabernaemontana catharinensis
    Figura 11 - Schizolobium parahyba
    Figura 10 - Handroanthus chrysotricha
    Figura 9 - Aloysia virgata
    Figura 8 - Handroanthus heptaphyllus
    Figura 7 - Heliocarpus popayanensis
    Figura 6 - Ceiba speciosa
    Figura 5 - Bauhinia uruguayensis
    Figura 4 - Machaerium hirtum
    Figura 3 - Aechemea distichantha
    Figura 2 - Thaumatophyllum bipinnatifidum
    Figura 1 - Raízes de Luehea candicans