ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO (PVA) DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IVAÍ: características e distribuição na paisagem

Gustavo Ribas Curcio1; Deniz Paulo Ferlin Junior2

 

O Estado do Paraná possui formações geológicas muito diversas, as quais combinadas às ações climáticas determinam grande variabilidade de solos. Uma das unidades litoestratigráficas mais importantes é o Arenito Caiuá - Cretáceo (145-66 Ma), situada no Estado em sua porção noroeste - Terceiro Planalto Paranaense. A unidade é composta por arenitos finos a médios, com cores arroxeadas, em estratificação plano paralela e cruzada de grande porte.

As feições das paisagens desenvolvidas sobre este arenito denotam relevos majoritariamente suaves (Figura 1), com padrões de comprimento de rampas médias a longas, pouco diversas quanto às suas formas, destaque para convexa-divergente, convexa-côncava-convergente e convexa-retilínea (Figura 2).

Figura 1 - Rampa com relevo suave ondulado e plano.
Figura 1 - Rampa com relevo suave ondulado e plano.

 

Figura 2 Rampa longa convexa-retilínea
Figura 2 - Rampa longa convexa-retilínea.

 

As ordens Latossolos e Argissolos são as classes predominantes nestas rampas, ambos com cores bem avermelhadas - prevalência da hematita - característico da subordem “Vermelho” (Figuras 3 e 4). Estes solos podem ser encontrados nos terços superior e médio das encostas constituindo unidade de mapeamento simples – quando ocorrem isolados em extensas áreas - ou composta, neste caso, quando estão intrinsecamente associados a outra classe de solo, composição cartográfica dependente da escala de detalhe do mapa. No terço inferior os referidos solos também estão presentes, contudo, em razão da escala do mapa, a exemplo 1:25.000, o Argissolo Vermelho pode estar associado com outros Argissolos (Figuras 5 e 6) como o “Vermelho-Amarelo” (PVA), “Amarelo” (PA), “Acinzentado” (PAC) e “Bruno-Acinzentado” (PBAC), com destaque em termos de área para o primeiro.

Figura 3 - Latossolo Vermelho Distrófico típico
Figura 3 - Latossolo Vermelho Distrófico típico.

 

Figura 4 - Argissolo Vermelho Distrófico abrúptico
Figura 4 - Argissolo Vermelho Distrófico abrúptico.

 

Figura 5 - Argissolo Amarelo Distrófico arênico
Figura 5 - Argissolo Amarelo Distrófico arênico.

 

 

Figura 6 - Argissolo Acinzentado Distrófico espodossólico arênico
Figura 6 - Argissolo Acinzentado Distrófico espodossólico arênico.

 

Neste cenário, o Argissolo Vermelho-amarelo (Figura 7) tem ocorrência no terço inferior da encosta, à jusante do Latossolo ou Argissolo Vermelho-Escuro, porém, a montante do Argissolo Amarelo ou Acinzentado, mais raramente acima do Bruno-Acinzentado, em rampas dominantemente convexa-retilínea e convexa-côncava-convergente.

Como condição prevalente, o PVA está posicionado ao final das rampas convexa-côncava-convergentes, próximo às cabeceiras de drenagem, ou ao final das convexas-retilíneas (Figura 8), em relevos suave ondulado (3 a 8%) e ondulado (8 – 20%).

Figura 7 - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico
Figura 7 - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico.
Figura 8 - Rampas com relevo suave ondulado e ondulado
Figura 8 - Rampas com relevo suave ondulado e ondulado.

 

Os mencionados posicionamentos predispõem o volume a conter elevados teores de umidade devido aos recorrentes fluxos hídricos subsuperficiais, processo que favorece a formação da goetita, a qual combinada a hematita determinam a coloração vermelho-amarelada (Figura 9).

A presença do horizonte superficial do tipo “A moderado” (pequenas espessuras e baixos teores de carbono) com textura arenosa é o dominante na região, não sendo incomum diagnosticar “A fraco” - teores de carbono inferiores a 6 g kg-1 – situação reveladora de degradação ambiental. Usos e manejos inconsistentes deste solo proporcionam a oxidação e/ou remoção excessiva da matéria orgânica.

Um possível horizonte transicional E (álbico ou não) com textura arenosa (Figura 10) é frequentemente identificado e isto se deve a uma perda expressiva de coloides – matéria orgânica, óxidos e argilo-minerais – fruto da lixiviação ácida promovida por “fluxos hídricos laterais subsuperficiais”.

Figura 9 - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico A fraco
Figura 9 - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico A fraco.
Figura 10 - Argissolo Vermelho-Amarelo com horizonte E (eluvial)
Figura 10 - Argissolo Vermelho-Amarelo com horizonte E (eluvial).

 

Os mencionados horizontes estão assentes sobre horizonte com relativo incremento da fração argila - B textural, normalmente com textura franco-argilo-arenosa, o que causa mudanças significativas no volume de poros, condição que justifica o sentido dos fluxos hídricos subsuperficiais (Figura 11).

 

Figura 11 - Fluxo hídrico subsuperficial lateral acima do Bt em Argissolo
Figura 11 - Fluxo hídrico subsuperficial lateral acima do Bt em Argissolo.

 

 

Todos os horizontes deste solo apresentam forte distrofia (baixa saturação por bases) e demandam constante reposição iônica por meio de adubação e calagem para viabilização de uso. Contudo, possuem baixa capacidade de troca catiônica – CTC – o que impõe a necessidade de práticas escalonadas para evitar perdas e possíveis contaminações dos corpos hídricos, sobretudo em rampas em que se observa a convergência dos fluxos hídricos - convexa-côncava-convergentes.

Outro fato notável para o PVA é a identificação recorrente dos caráteres arênico e espessarênico, respectivamente, textura arenosa desde a superfície com no mínimo 50 cm e no máximo 100 cm de profundidade – e espessarênico – textura arenosa desde a superfície com no mínimo 100 cm e no máximo 150 cm de profundidade, atributos que exponenciam a sujeição destes solos à erosão, além de minimizar a “capacidade filtro do solo”, ou seja, diminuir a retenção de resíduos tóxicos dos sistemas de produção.

Pelo exposto, fica evidente a necessidade de se saber a distribuição destes solos naquela região, a fim de aumentar a consistência dos planejamentos dos sistemas de produção ampliando, assim, a possibilidade de alcançar usos mais sustentáveis.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Técnico da FAPED – denizferlin@gmail.com