ARGISSOLO VERMELHO (PV) NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IVAÍ: características, distribuição e potencial de uso.

Gustavo Ribas Curcio1

 

                 

O Argissolo Vermelho (PV) é um solo mineral não-hidromórfico com alto grau de desenvolvimento pedogenético, frequentemente identificado no Paraná em paisagens concebidas no capeamento sedimentar do Arenito Caiuá (Figura 1), posicionado especificamente em encostas, nos terços superior, médio e parte do inferior (Figura 2).

Figura 1 –  Arenito Caiuá
Figura 1 – Arenito Caiuá.

 

Figura 2 – Erosão em Argissolo Vermelho
Figura 2 – Erosão em Argissolo Vermelho.

 

É caracterizado pela presença de horizonte B textural nos matizes 2,5 YR 3/5 ou 3/6 (cores avermelhadas) abaixo do A ou E, com gradientes texturais diversos quanto à transição: abrupta (Figura 3) a difusa (Figura 4). As classes granulométricas areia e areia franca no horizonte superficial e franco-argilo-arenoso no Bt estabelecem, dominantemente, as relações texturais deste tipo de solo.

Figura 3 – ARGISSOLO VERMELHO Distrófico abrúptico
Figura 3 – ARGISSOLO VERMELHO Distrófico abrúptico.

 

Figura 4 – ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico
Figura 4 – ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico.

 

Na porção noroeste do Estado, prevalece o caráter distrófico (baixa saturação por bases), mais raramente eutrófico (alta saturação por bases), neste caso, em alguns PVs abrúpticos.

Os baixos teores de carbono identificados no horizonte superficial, associado às pequenas espessuras incorrem de forma absoluta para a classe “moderado”, com forte expressão do matiz 2,5 YR 3/4 (Figura 5), sendo que em relevos ondulados encontram-se os horizontes mais adelgaçados decorrentes da maior incidência dos processos erosivos (Figura 6).

Figura 5 – Sedimentos de horizonte A e Bt.
Figura 5 – Sedimentos de horizonte A e Bt.

 

Figura 6 – Processo erosivo em Argissolo Vermelho
Figura 6 – Processo erosivo em Argissolo Vermelho.

 

Em razão dos baixos teores de argila e carbono no horizonte superficial há o predomínio de estruturas fracamente desenvolvidas, do tipo granular pequena e muito pequena, com expressiva presença de grãos de quartzo isolados. No horizonte Bt, onde a textura atinge a classe franco-argilo-arenosa, verifica-se a presença de leve grau de desenvolvimento - fraca/moderada (Figura 5).

Nos mapeamentos semidetalhados de solos executados nas Bacias Hidrográficas Paraná I, II, III, Ivaí e Piquiri, o PV pode ser identificado desde o topo dos interflúvios, porém o registro mais comum acontece à jusante do Latossolo Vermelho e a montante do Argissolo Vermelho-Amarelo (Figura 7 – desenho).

 

 

Figura 7 – Pedossequência com Argissolo Vermelho
Figura 7 – Pedossequência com Argissolo Vermelho.

 

 

Por se tratar de solo com expressivo incremento de argila em subsuperfície, conjugado ao fato de sua ocorrência em relevos mais movimentados, torna-se oportuno adotar manejos que mantenham cobertura morta sobre a superfície – palhada - e que ao mesmo tempo procurem minimizar o revolvimento do mesmo, afim de evitar o processo erosivo. Ademais, com o mesmo intuito, nos casos em que são implantados sistemas produtivos, seja agricultura ou pecuária, é imprescindível o seccionamento da encosta por meio de terraços. Deve-se ter em mente que solos com elevado gradiente textural em declives acentuados possuem forte tendência à erosão.

Complementarmente, a presença de gradiente textural abrúptico em relevos ondulados, necessariamente, estabelece um processo erosivo subsuperficial lateral pela presença do LESP – lençol suspenso pluviométrico – com o consequente carreamento de coloides (orgânicos e inorgânicos), fato que determina a menor oferta iônica para as culturas.

Outro fato importante a ser mencionado para os Argissolos é a possibilidade da identificação do horizonte E com espessuras bem diferenciadas, o que torna possível a diagnose dos caráteres arênico e espessarênico, respectivamente, textura arenosa da superfície até 100 cm e abaixo desta profundidade. Em termos erosionais, os caráteres citados determinam maior predisposição à erosão, além de proporcionar menor oferta iônica para as plantas, portanto, determinam menor resiliência ambiental nos casos em que tenham que ocorrer ações de recuperação ambiental.

Assim como em outras classes de solos, infelizmente, tem sido frequente identificar elevados graus de exposição da superfície do solo (Figura 8), associados a estruturas debilitadas nos horizontes superficiais, além de terraços mal conservados (Figura 9), condições estas que permitem a instalação plena da erosão.

Figura 8 – Elevado grau de exposição do horizonte superficial Ap
Figura 8 – Elevado grau de exposição do horizonte superficial Ap.

 

Figura 9 – Terraços avulsionados pelo tráfego de gado
Figura 9 – Terraços avulsionados pelo tráfego de gado.

 

Se por um lado a presença do horizonte Bt predispõe a classe fortemente ao processo de erosão, por outro proporciona elevados níveis de retenção de umidade em subsuperfície, o que determina um bom potencial de uso para a silvicultura, ou mesmo para a instalação de fruteiras.

Sem dúvida, uma das formas de se melhorar o potencial de uso destes solos é assegurar manejos mais consistentes, embasados por informações técnico-científicas de suas características intrínsecas, associados a uma melhor noção de sua distribuição nas paisagens possibilitando, assim, menores condições de favorecer os processos erosivos. Estas informações constarão nos mapas e documentos técnicos dos Projetos PronaSolos e Aisa confeccionados pela Embrapa Florestas e IDRPR – Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br