Gustavo Ribas Curcio¹, Marlon Antonio Debrino²

A fisiografia do Arenito Caiuá no Noroeste do Paraná revela relevos dominantemente suaves (Figura 1), onde se verificam disposições alternadas de rampas com conformações pouco diversas: convexa-divergente, convexa-côncava-convergente e convexa-retilínea. Os grandes comprimentos destas, normalmente acima de 1500 metros, determinam interflúvios de grandes dimensões, com ampla possibilidade de diversificação em coerência aos distintos potenciais de uso.

 

Distribuídos de forma bastante variável ao longo das encostas, tem-se o predomínio de duas ordens de solos, a saber, Latossolos e Argissolos (Figuras 3 e 4). Para o primeiro caso, de forma genérica, verifica-se o predomínio do Latossolo Vermelho, ocupando posições mais elevadas (topo até terço médio) em relevos plano e suave ondulado.

 

Por sua vez, os Argissolos são encontrados em sua grande maioria nos terços médio e inferior das encostas, em relevos suave ondulado e ondulado, em alguns casos, forte ondulado. Esta distribuição na paisagem, combinada às conformações de relevo, determina grande variação da classe em função dos processos de alteração e retirada dos óxidos de ferro, condições que proporcionam a presença de cinco tipos de Argissolos: Argissolo Vermelho, A. Vermelho-Amarelo, A. Amarelo, A. Acinzentado e A. Bruno-Acinzentado.

 

Durante as pesquisas efetuadas no levantamento de solos na região noroeste do Estado, o Argissolo-Acinzentado tem sido identificado nas porções finais do terço inferior das encostas, normalmente posicionado abaixo do Argissolos Vermelho-Amarelo e Amarelo, porém, antecedente aos solos que constituem as planícies da região: Planossolo Háplico, Neossolo Quartzarênico entre outros.

Importante ressaltar que o Argissolo Acinzentado pode ser encontrado em duas posições distintas, no caso, à montante das surgências hídricas, em zona de cabeceira de drenagem (Figura 7), ou ainda na zona de deflexão de encosta para as planícies propriamente ditas (figura 8).

 

Os resultados analíticos têm demonstrado a predominância do caráter distrófico, tanto no horizonte superficial como no B textural (Bt), nas composições granulométricas areia/franco-arenosa, ou ainda areia/franco-argilo-arenosa, condição que combinada ao posicionamento de terço final de encosta, favorece aos processos erosivos.

A presença de horizonte A “fraco”, sobreposto a horizonte eluvial - E álbico - evidencia o baixo potencial de imobilização de carbono, situação que aliada aos baixos teores de argila presentes, concorre para os baixos níveis de CTC – Capacidade de Troca Catiônica - além de proporcionar estruturas muito debilitadas, praticamente de simples justaposição, ensejando grande fragilidade ambiental.

As cores reconhecidas a campo encontram-se em consonância ao proposto no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, matiz 10YR, valor em torno de 6 e cromas inferiores a três, proporcionando a constituição de volumes bastante esmaecidos, não raramente com a presença de mosqueados em profundidade (Figura 6).

Um dos pontos mais importantes a ser comentado é o fato destes solos apresentarem os caráteres arênico – presença de textura arenosa até 100 cm de profundidade – ou espessarênico – textura arenosa até profundidades abaixo de 100 cm.  Muitos dos processos erosivos nas paisagens do Arenito Caiuá têm início neste tipo de solo em virtude destes atributos, os quais determinam forte suscetibilidade ambiental.

Pelo exposto, o Argissolo Acinzentado constitui um segmento de paisagem no terço final das encostas com baixo potencial de uso, devendo-se ter muito critério para o planejamento caso seja colocado algum sistema de produção.

Sistemas com pouca mobilização e mínima exposição de solo ainda poderiam ser admitidos, tendo em conta a presença dos atributos arênico e espessarênico, potencialmente suscetíveis à erosão.

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Técnico da FAPED – marlon_debrino@hotmail.com