CONSTRUÇÃO DA BASE HIDROGRÁFICA DA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III

Dalila Peres de Oliveira1, Leonardo Miranda Feriani1, Gustavo Ribas Curcio2; Annete Bonnet2, João Henrique Caviglione

 

 

A imagem da base hidrográfica da Bacia Hidrográfica Paraná III gerada pelo PronaSolos-PR foi o BaseMap, World Imagery, proveniente da DigitalGlobe® e disponibilizado pela ESRI®.

O processo da grafia da rede de drenagem da Bacia Hidrográfica Paraná III – BHPIII (Figura 1) começou pela análise e interpretação de imagens de satélite da área de estudo com a finalidade de conferir o máximo de legitimidade cartográfica aos elementos de paisagem desejados pelo projeto PronaSolos-PR.

Figura 1-Representacao da rede de drenagem da Bacia Hidrografica Parana III construida pelo PronaSolos-PR Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani (2020).
Figura 1-Representacao da rede de drenagem da Bacia Hidrografica Parana III construida pelo PronaSolos-PR Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani (2020).

 

 

A despeito da escala de análise, 1:5.000, a maior dificuldade na interpretação das imagens foi a distinção entre rios que possuem fluxo perene daqueles que têm fluxo temporário (intermitente e efêmero). Cabe ressaltar que rios perenes possuem vazões continuadas, mesmo em períodos de estiagem, enquanto nos intermitentes identifica-se o caudal fluvial somente durante os períodos chuvosos e nos efêmeros apenas após os eventos de precipitação.

Para a base hidrográfica do PronaSolos-PR foram registrados apenas os rios e as nascentes perenes, os quais representam a maior parte de toda a rede de drenagem. Entretanto, nas áreas compreendidas pela província patamarizada (Figura 2), houve maior dificuldade em distinguir cursos e nascentes perenes dos demais, devido às características das múltiplas grafias fluviais que descaem encosta abaixo. A razão dessa grande diversidade de canais escoadouros na citada província deve-se ao predomínio de solos de pequena espessura (Figura 3) situados em relevos de alta declividade, em contraposição ao que se observa na província convexada (Figura 4). Os solos rasos ensejam maior escorrimento superficial favorecendo a formação de múltiplos canais de escoamento superficial das águas pluviais, configurando assinaturas fluviais intermitentes e efêmeras na paisagem (Figura 5).

Figura 2 - Feições da Província Patamarizada.
Figura 2 - Feições da Província Patamarizada.

 

Figura 3 - Neossolo Litólico.
Figura 3 - Neossolo Litólico.

 

Figura 4 – Grafia fluvial em províncias convexada (à direita) e patamarizada (à esquerda) Bacia Hidrográfica Paraná III. Escala aproximada: 1:350.000. Fonte: Google Earth (2020). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
Figura 4 – Grafia fluvial em províncias convexada (à direita) e patamarizada (à esquerda) Bacia Hidrográfica Paraná III. Escala aproximada: 1:350.000. Fonte: Google Earth (2020). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.

 

 

Figura 5 – Grafias fluviais em período chuvoso em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
Figura 5 – Grafias fluviais em período chuvoso em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
 

Diante disso, algumas estratégias foram adotadas objetivando facilitar a diferenciação das feições fluviais com fluxos perenes dos temporários. A conciliação de elementos da paisagem como grau de movimentação do relevo (relevos corrugados), “texturas marchetadas” (mosaico de nuances matizados), interpostas por fortes evidências de estruturas rochosas, no processo de interpretação predizem, em alto grau, o aparecimento de solos rasos. Ademais, a presença de caixas de retenção nas pastagens durante a estação chuvosa (Figuras 5 e 6), denuncia espessuras adelgaçadas dos solos constituintes das paisagens que conformam a província patamarizada. O mal manejo (mal dimensionamento e falta de manutenção) a essas atribuídas resulta em realçamento das assinaturas fluviais a jusante dessas, grafias efêmeras resultantes do processo erosivo acelerado.

 

Figura 6 – Grafias fluviais em período mais seco em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Google Earth (2019). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
Figura 6 – Grafias fluviais em período mais seco em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Google Earth (2019). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.

 

 

As diferentes manifestações das grafias fluviais em períodos diferentes foi uma estratégia de discriminação. Na Figura 5, homóloga da Figura 6, aquela captada em período chuvoso e essa em período seco, destaca-se a suavização das assinaturas fluviais, contribuindo para a distinção dos canais perenes. Portanto, a técnica de confronto de imagens em épocas distintas, também foi uma estratégia adotada para ajudar na diferenciação de tipos de canais de drenagem. O Google Earth® oferece esta ferramenta (imagens históricas) que permite visualizar a imagem de uma mesma área em distintos intervalos de tempo, oportunizando observar a mesma área em diferentes estações do ano.

Associado ao quadro supracitado, a presença ou não de cobertura vegetal no entorno dos cursos d’água também deve ser usada como elemento indicativo de hidrografia perene, porém em função da distribuição irregular, nem sempre é conveniente para proceder à distinção. Infelizmente, ainda é comum identificar a ausência de florestas protetivas de rios e nascentes, contrariando o que o Código Florestal brasileiro em vigência preconiza para as unidades fitogeográficas de cunho florestal.

Contudo, esse elemento associado ao recurso de visualização tridimensional - 3D oferecido pelo programa Google Earth® contribui para a identificação dos canais fluviais perenes, estando estes em meio a vegetação ou não nas províncias patamarizadas. Isso se deve, geralmente, em razão dos entalhes mais acentuados encontrados para os canais de vazão continuada, causados pela ação constante de cisalhamento de fluxo e desgaste físico do leito rochoso proporcionado pela tração de fragmentos rochosos.

Para finalizar, como último recurso adotado para definição de cursos perenes, as curvas de nível – isocotas - (Imagem 7) associadas ao tratamento por sombreamento das imagens, auxiliam a percepção de alterações de altitude e incisões fluviais, contribuindo para diferenciação de linhas de drenagem, mesmo em áreas com vegetação florestal mais densa. Todavia, deve-se ter em conta o potencial de distorção extra proporcionado pela altura da floresta nas bordas dos capões, principalmente quando se tem essas cotas com distribuição altimétrica de alta precisão - 5 m -, a exemplo do PronaSolos-PR.

 

Figura 7 – Segmento de paisagem com representação das curvas de nível – isocotas – com diferenciação altimétrica de 5 metros. Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
Figura 7 – Segmento de paisagem com representação das curvas de nível – isocotas – com diferenciação altimétrica de 5 metros. Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.

 

 

Todas as técnicas e recursos adotados objetivaram gerar uma base hidrográfica com o maior nível possível de detalhes. Esse conjunto de operações consecutivas amenizam as possíveis imprecisões de análise e possibilitam obter uma interpretação com alta correspondência com a realidade das paisagens da BHPIII subsidiando, assim, a análise e interpretação da vegetação e dos solos em escalas de detalhe e semidetalhe, respectivamente.

 

1 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – dalilap_oliveira@outlook.com

1 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – leonardo.feriani@hotmail.com

2 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.brr

† – Ex-pesquisador do IDRPR

  • Figura 7 – Segmento de paisagem com representação das curvas de nível – isocotas – com diferenciação altimétrica de 5 metros. Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 6 – Grafias fluviais em período mais seco em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Google Earth (2019). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 5 – Grafias fluviais em período chuvoso em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 4 – Grafia fluvial em províncias convexada (à direita) e patamarizada (à esquerda) Bacia Hidrográfica Paraná III. Escala aproximada: 1:350.000. Fonte: Google Earth (2020). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 3 - Neossolo Litólico
    Figura 2 - Feições da Província Patamarizada
    Figura 1-Representacao da rede de drenagem da Bacia Hidrografica Parana III construida pelo PronaSolos-PR Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani (2020)
    Figura 7 – Segmento de paisagem com representação das curvas de nível – isocotas – com diferenciação altimétrica de 5 metros. Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 6 – Grafias fluviais em período mais seco em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Google Earth (2019). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 5 – Grafias fluviais em período chuvoso em província patamarizada, município de Ouro Verde, com ênfase em caixas de retenção (círculos) e grafias efêmeras (setas). Fonte: Terra Incógnita, 2018. Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 4 – Grafia fluvial em províncias convexada (à direita) e patamarizada (à esquerda) Bacia Hidrográfica Paraná III. Escala aproximada: 1:350.000. Fonte: Google Earth (2020). Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani.
    Figura 3 - Neossolo Litólico
    Figura 2 - Feições da Província Patamarizada
    Figura 1-Representacao da rede de drenagem da Bacia Hidrografica Parana III construida pelo PronaSolos-PR Org.: Dalila Peres de Oliveira; Leonardo Miranda Feriani (2020)