A ESTRUTURA EM LATOSSOLOS VERMELHOS DERIVADOS DE ROCHAS ERUPTIVAS NA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III – BHP III
Gustavo Ribas Curcio1; João Bosco Vasconcellos Gomes2
Julho 2021
Dentro das paisagens derivadas das rochas eruptivas da BHP III, o Latossolo Vermelho – LV - (Figura 1), é o solo que ocupa a maior extensão territorial.
O LV derivado de rochas eruptivas exibe características típicas como elevada profundidade, além de textura muito argilosa no horizonte Bw (maior que 600 g.kg-1), acrescido pelo caráter férrico (teores de ferro pelo H2SO4 maior que 18 dag kg-1 a < 36 dag kg-1).
Quanto às trofias verificam-se variações importantes tanto em horizontes superficiais como em subsuperfície (horizontes Bw). As mudanças em superfície estão relacionadas principalmente aos tipos de usos e manejos atribuídos, os quais demandam constantes práticas de calagem e adubação (Figuras 2 e 3). Todavia, em subsuperfície estas alterações se devem a uma dinâmica de conjugação: petrografia dos distintos derrames vulcânicos que constituem a bacia hidrográfica frente às condições climáticas prevalecentes em pisos altimétricos bem diferenciados – 200 m a 740m.
Os Latossolos ocupam relevos de conformações amplas e suaves, com predomínio de baixas classes de declividade – plano (0 – 3 %) (Figura 4), suave ondulado (4 – 8 %) (Figura 5), mais raramente em ondulado (9 – 20 %).
Seus posicionamentos nas encostas, também variáveis, se sucedem do topo ao terço inferior da paisagem, predominantemente em rampas com formas convexas-côncavas-convergentes, convexas-divergentes ou mesmo convexo-retilíneas (Figura 6). As condições citadas conferem um alto potencial de produção, proporcionando alto rendimento para os sistemas produtivos.
A estrutura do solo é uma propriedade interdependente de vários fatores e processos e o seu reconhecimento pelos morfologistas é fundamental para proceder a classificação do solo. Em condições naturais, a estrutura consiste na manifestação de padrões mutáveis de arranjamento, com diferentes graus de estabilidade e tamanhos, entre as partículas de areia, silte, argila, imbricadas por íons e matéria orgânica.
No que se refere a estrutura dos Latossolos Vermelhos derivados de rochas eruptivas, sob condições preservadas (floresta) não é incomum se deparar com estruturas granulares do tipo grumosa (Figura 7) no horizonte superficial (A), ou seja; as unidades estruturais possuem elevados percentuais de porosidade com alto grau de conectividade, tendo continuidade em profundidade (Bw).
Originalmente, nestas estruturas granulares, os agregados ou peds acondicionam os espaços porosos – intra-agregados - e os espaços porosos de justaposição – inter-agregados - todos facilmente visualizáveis, ocupados por ar e água.
Nos Latossolos que se encontram sob sistemas produtivos, devido aos usos constantes de implementos e máquinas agrícolas, foi verificado expressivas mudanças de estrutura, sejam por desagregação ou por compactação (Figura 8).
A manutenção da estrutura é vital para que se possa ter boa capacidade de aeração (incorporação de O2 e saída de CO2), fácil penetração de raízes, boa infiltração de água, redistribuição e retenção de água nos horizontes, entre outros benefícios. Por conseguinte, a manutenção de estruturas com grande quantidade de poros conectáveis é vital para minimizar os processos erosivos, os quais muitas vezes incorrem em perdas irreparáveis, a exemplo, em nascentes (Figura 9).
As ações de cultivo do solo, independentemente do grau de tecnologia e manejo empregado, acabam por afetar as estruturas originais superficiais em maior ou menor intensidade, determinando perdas de infiltração de água, ensejando maior suscetibilidade à erosão e seus efeitos danosos.
Durante as ações de mapeamento na BHP III os técnicos do PronaSolos-PR têm se deparado comumente com fortes alterações estruturais nos Latossolos Vermelhos – encrostamento (Figuras 10a e 10b) e compactação (Figura 8).
O encrostamento em Latossolo refere-se a uma camada endurecida, quando seca, com espessura que varia de poucos milímetros a alguns centímetros na superfície do solo, resultante da quebra das unidades estruturais superficiais do solo (desagregação), com consequente rearranjamento de partículas. Esta desagregação causa um selamento dos poros, os quais causam menor permeabilidade e restrita aeração (Figura 11).
A intensidade de manifestação deste processo é decorrente de uma interação de fatores, tais como elevadas erosividades, oscilações drásticas nos teores de carbono do solo, lavouras com baixo estande de plantas, o que gera pouca palhada para o próximo ciclo, todas condições que predispõem o solo ao impacto da gota da chuva.
Na BHP III detectou-se uma diferença bastante acentuada no potencial para a formação de palhadas durante as ações de levantamentos de solos. Abaixo dos 400 metros de altitude, em função das temperaturas mais elevadas, há um forte declínio da quantidade de palha na superfície dos solos. Esta menor formação de palhada torna mais frequente o encrostamento superficial. Portanto, essas áreas são mais críticas para a geração de crostas e devem ter manejos mais específicos que possam gerar melhor cobertura de palhada sobre o solo.
Nos Latossolos Vermelhos da BHP III sob lavoura também foi identificada com muita recorrência a presença de camadas compactadas, fato que determina grandes volumes de solo com profunda alteração da estrutura original dos horizontes superficiais. As figuras 12a, 12b e 12c ilustram algumas diferenças de estrutura em horizonte A destes solos – levemente alterada, alterada e profundamente alterada.
Figuras 12a, 12b e 12c – Estrutura levemente alterada, alterada e fortemente alterada do horizonte A de Latossolo Vermelho.
As figuras acima retratam um processo de alteração dos tipos e tamanhos das unidades estruturais, com forte perda da porosidade do solo – aumento da densidade do solo.
A maioria dos Latossolos Vermelhos da bacia encontram-se fortemente compactados, muitas vezes ultrapassando os 50 cm de profundidade, ou seja, atingindo os horizontes BA e topo do Bw1. A estrutura destes horizontes compactados difere de forma brusca e torna-se prejudicial ao crescimento de raízes, diferindo da estrutura pequena e muito pequena granular do horizonte Bw2 (Figura 13), a qual permite fácil desenvolvimento radicular.
O problema da compactação dos solos que se encontram com produção de grãos é um processo que se verifica em razão do trânsito de máquinas e implementos agrícolas, sobretudo, em solos excessivamente úmidos e, portanto, passíveis de deformações das suas unidades estruturais.
A perda de porosidade por compactação tem sérias implicações ambientais, pois a menor infiltração de água enseja processos erosivos que acabam por descaracterizar os solos de encosta, assorear rios e planícies, além de desconfigurar a dinâmica hidrológica das nascentes ao final das rampas (Figura 9). Além disto, afetam profundamente a penetração de raízes (Figuras 14) e as trocas gasosas, afetando sensivelmente a produtividade das culturas. Ademais, uma das mais importantes alterações é o fato de que a compactação restringe expressivamente a recarga hidrológica dos Latossolos Vermelhos.
Outra forma de degradação da estrutura superficial original – pulverização - se verifica pelo uso de implementos inadequados (Figura 15), principalmente, em solos que se encontram secos. Este processo, assim como a compactação, é indesejado em virtude não só por diminuir o tempo em que ocorrem as trocas gasosas, mas também por predispor o horizonte superficial a uma maior suscetibilidade à erosão.
Apesar dos novos conhecimentos gerados por pesquisadores/agricultores e muito esforço já ter sido feito no sentido de conservar a estrutura dos solos sob cultivo, sem dúvida a atenção de técnicos e produtores deve ser redobrada para contornar a situação que ainda persiste nos solos da bacia – a mudança expressiva da estrutura superficial dos solos.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
2 – Pesquisador da Embrapa Florestas – jbvgomes@gmail.com