Espécies arbóreas nativas indicadas para uso em propriedades rurais da Bacia Hidrográfica Paraná III - BHP III
Gustavo Ribas Curcio1, Mauricio Kacharouski2, Deniz Ferlin2
A grande diversidade de espécies arbóreas nativas presentes na Floresta Estacional Semidecidual possibilita a utilização destas para diferentes fins, colaborando para a sustentabilidade da propriedade rural.
Assim, há amplas possibilidades de reintroduzir a árvore na propriedade rural, associando-as as atividades produtivas, por exemplo, para demarcar divisas de propriedade, delimitar sistemas de produção – agrossilvopastoris – além de embelezamento de estradas de acesso a sede, entre tantas outras aplicações.
Evidentemente, para assegurar a viabilidade desta utilização devem ser considerados os atributos das espécies de interesse, tais como a altura que a árvore alcança, o tamanho e a forma da copa e qualquer outra característica que possa determinar benefício desejado, ou mesmo o impacto em sua utilização, sobretudo, para as lavouras circunvizinhas.
Para a divisa de sistemas de produção – silvopastoris – embora não propriamente uma árvore, a família das arecáceas (palmeiras) pode ser uma boa solução, tendo em conta a presença do tronco (estipe) sem galhos e folhas, bem como não possuir copa ampla. Estas características permitem bom grau de insolação até a superfície do solo, não trazendo prejuízos para a produção. Ademais, o movimento “leve e constante” das folhas pendentes garantem o acesso da luz de forma muito recorrente até o solo.
As palmeiras Syagrus romanzoffiana (Figura 1) e Acrocomia aculeata (Figura 2), ambas típicas na BHP III, são altamente recomendadas para este tipo de situação. No entanto, ressalta-se que a ocorrência das duas palmeiras na BHP III varia muito de acordo com as características dos solos, especialmente com a textura. Assim, a espécie A. aculeata apresenta maior expressão ao norte da bacia, em solos com textura mais leve (maior presença da fração areia), derivados do Arenito Caiuá. Por outro lado, a S. romanzoffiana possui maior ocorrência em solos argilosos a muito argilosos, derivados de rochas eruptivas. Complementarmente, embora ambas tenham maior ocorrência em solos bem drenados, também possuem boa adaptabilidade aos solos com algum problema de drenagem (semi-hidromórficos).
Outro local para utilização das palmeiras é a estrada de acesso à propriedade rural. Esta pode ser agraciada com uma composição simples ou binária alternada por ipê-amarelo/palmeira, todavia, o espaçamento entre estes elementos deve levar em conta a largura das respectivas copas. Ipês-amarelos bem desenvolvidos possuem raios de copa entre 5 a 7 metros, em média, enquanto as duas palmeiras bem desenvolvidas, de forma isolada, ocupem 3 a 4 metros de raio. No sentido de minimizar um sombreamento demasiado na estrada, aconselha-se o plantio do outro lado da estrada de forma às espécies não ficarem frente-a-frente (sistema quincôncio). Além do embelezamento, o uso principalmente das palmeiras favorecerá muito a fauna local.
Para alguns usos, como é o caso de beiras de estradas internas, além das funcionalidades propostas, tem-se a possibilidade de complementação de renda como é o caso do uso da erva-mate (Ilex paraguariensis) (Figura 3), da espinheira-santa (Monteverdia ilicifolia) e da aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolia) (Figura 4). As duas primeiras encontram boa aplicação em mercado medicinal, enquanto a terceira é muito usada como tempero na culinária. Portanto, se houver interesse financeiro por parte do produtor rural, recomendam-se manejos de podas de formação e condução, o que interferirá nos espaçamentos de plantio. Para esta situação, para as duas primeiras, em plantio linear, recomenda-se espaçamento de 3 em 3 metros, enquanto para a aroeira de 4 metros.
Dentro da mesma propriedade a divisão entre pastagens, formação e manutenção de corredores e cultivos, ao lado de galpões e de outras benfeitorias podem ser usadas espécies floríferas de menor porte, a exemplo, ipê-amarelo (Handroanthus chrysotricha) (Figura 5). Esta espécie se desenvolve bem em solos não hidromórficos e semi-hidromórficos.
Para as divisões de pastagens também é possível a implementação de nativas com características frutíferas/melíferas, tais como a pitangueira (Eugenia uniflora) (Figura 6) e uvaia (Eugenia pyriformis) (Figura 7).
A criação de cercas vivas sempre ocorreu em propriedades rurais e uma espécie indicada para este fim é o maricá (Mimosa bimucronata) (Figura 8), a qual na época de floração ostenta intensa coloração branca, proporcionando exuberante destaque à propriedade rural. Além disto, a espécie possui grande quantidade de acúleos e ramificações que, se bem manejadas, impedem o trânsito de animais e humanos. Neste sentido pode ser usada para proteger nascentes, com a grande vantagem de se desenvolver bem tanto em solos mal drenados, como em fortemente drenados.
Sem dúvida, o uso das arbóreas nativas proporciona maior diversificação à propriedade rural, tornando-a mais atrativa e valorizada entre as demais.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
2 – Técnico da FAPED – mkacharouski@gmail.com
2 – Técnico da FAPED – denizferlin@gmail.com