GLEISSOLOS DO SUBPLANALTO CASCAVEL – características e potencial de uso.

Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet2, Marlon Debrino3

 

                                                                           

Gleissolos são solos minerais formados em condição de alagamento, permanente ou temporário (Figura 1), que determina a formação de horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm. Este horizonte é muito peculiar tendo em vista suas cores acinzentadas, retratando os efeitos da ascensão e descensão do lenço freático, processo que regula os fenômenos de oxirredução do ferro. Em função deste cátion metálico o horizonte glei (Eg, Bg ou Cg e até Ag), comumente, possui mosqueados (Figura 2), ou mesmo plintita ou petroplintita (Figura 3). Estas duas últimas feições ferruginosas são admitidas em horizonte glei desde que se encontrem em quantidades insuficientes para caracterizar os horizontes plíntico e concrecionário.

Figura 1 - Gleissolo Háplico.
Figura 1 - Gleissolo Háplico.

 

Figura 2 - Mosqueados em bloco do horizonte glei.
Figura 2 - Mosqueados em bloco do horizonte glei.

 

 

Figura 3 - Petroplintita.
Figura 3 - Petroplintita.
 

Como se tratam, em sua grande maioria, de solos mal a muito mal drenados, os Gleissolos possuem sequenciamento de horizontes A-Cg ou Ag-Cg, onde prevalecem as condições anóxicas. Todavia, quando estes solos estão situados em feições geomorfológicas levemente mais alçadas na planície (terraços fluviais), pode haver o favorecimento para drenagens mais efetivas, a exemplo, imperfeitamente a moderadamente drenados. Circunstância como esta determina a possibilidade de ocorrer maior grau de estruturação de horizontes subsuperficiais, incorrendo na presença do horizonte Bg, condição de maior troca gasosa para as plantas.

A equipe do PronaSolos Paraná tem registrada a presença destes solos no subplanalto Cascavel, tanto em beirada de rios como no entorno de nascentes (Figura 4). Evidentemente que a área de ocupação territorial dos Gleissolos é maior em planície dos rios, preferencialmente nos maiores, onde se tem ampliada a possibilidade de continuidade destes. Assim, devido às características geomorfológicas tanto das nascentes como de planícies fluviais, tem-se identificado a presença de horizontes superficiais com diferenças marcantes nos teores de matéria orgânica, ora mais espessos e ricos em carbono (A húmico ou proeminente), ora mais adelgaçados e pobres em carbono (A moderado). A presença de horizonte hístico nestes solos se verifica, principalmente, circunscrevendo os Organossolos Háplicos em nascentes, porém com espessura inferior a 40 cm. Decorrente, sobretudo, destas diferenças presentes nos horizontes superficiais, no subplanalto, tem-se identificado Gleissolos Melânicos e Háplicos, mudanças, conforme supracitado, que estão a cargo dos processos fluviais e suas conformações geomorfológicas.

 

Figura 4 - Entorno de nascente constituído por Gleissolo
Figura 4 - Entorno de nascente constituído por Gleissolo.

 

 

Devido à condição de hidromorfismo presente, os Gleissolos oferecem sérias restrições ao uso com culturas agrícolas tradicionais como milho, soja entre outros. No entanto, prestam-se de forma excepcional ao cultivo do arroz irrigado, onde é possível obter produtividades altamente satisfatórias.

O citado subplanalto é um grande divisor de bacias hidrográficas, notadamente, sem a presença de grandes rios. Por este motivo as planícies são restritas em largura, condição que determina uma distribuição dos Gleissolos muito próxima aos rios e, não incomumente, de forma descontínua, fato limitante ao uso agrícola destes solos. Por outro lado, pela distribuição destes solos estar incluída em Áreas de Preservação Permanente – APPs, cumprem outros papéis não menos importantes, porém de caráter específico ecológico.

Assim, a baixa permeabilidade dos Gleissolos, atrelada à constante elevação do freático e frequentes inundações, enseja a possibilidade de a ocupação vegetal ser constituída por plantas altamente especializadas à saturação hídrica ampliando, assim, a pluralidade florística das florestas. Neste contexto, por intermédio dos levantamentos fitossociológicos que vêm sendo executados no PronaSolos PR, identifica-se como um dos destaques nas planícies o branquilho (Gimnanthes klotzchiana Müll. Arg.), arbórea pertencente ao grupo funcional hidrófilo.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br;

2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br;

3 – Técnico do PronaSolos Paraná – marlon_debrino@hotmail.com

  • Figura 4 - Entorno de nascente constituído por Gleissolo
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Figura 3 - Petroplintita.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Figura 2 - Mosqueados em bloco do horizonte glei.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Figura 1 - Gleissolo Háplico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Figura 4 - Entorno de nascente constituído por Gleissolo
    Figura 3 - Petroplintita.
    Figura 2 - Mosqueados em bloco do horizonte glei.
    Figura 1 - Gleissolo Háplico.