MAPA HIPSOMÉTRICO, HILLSHADE, PERFIL DE ELEVAÇÃO TOPOGRÁFICO, PEDOSSEQUÊNCIAS: características dos solos – parte 3

Gustavo R. Curcio 1, Dalila P. de Oliveira 2, Larissa H. R. de Queiroz 3

 

A conjugação de artifícios cartográficos – mapa hipsométrico, perfil de elevação topográfico e transecto – constitui uma forma de análise importante para estudos ambientais, tais como os levantamentos geomorfológicos e pedológicos (Figura 1). Quando as altimetrias são conhecidas e discretizadas, com as respectivas feições de relevo, é possível materializar plataformas de trabalho onde possam ser alocadas uma estrutura pedossequencial em determinada região.

 

Figura 1 – Representação de paisagem do Rio Ivaí e encostas adjacentes através de mapa hipsométrico com hillshade, perfil de elevação topográfico e transecto A – Carta E5, Bacia Hidrográfica Rio Ivaí – Projeto AISA.
Figura 1 – Representação de paisagem do Rio Ivaí e encostas adjacentes através de mapa hipsométrico com hillshade, perfil de elevação topográfico e transecto A – Carta E5, Bacia Hidrográfica Rio Ivaí – Projeto AISA.

 

 

A disposição georreferenciada das pedossequências sobre o referido conjunto cartográfico, é um arcabouço que pode gerar análises contundentes para planejamentos subsequentes, inclusive, para as ações de levantamento de solos. Após o mapeamento de campo, de posse dos resultados analíticos e morfológicos obtidos, estas plataformas de trabalho auxiliam de forma robusta a compreensão da ocorrência dos solos nas paisagens (Figura 2).

 

Figura 2 – Representação de paisagem envolvendo o Rio Ivaí e encostas adjacentes através de mapa hipsométrico com hillshade, perfil de elevação topográfico, transecto A com pedossequência (classes de solo e capacidade de uso) – Carta E5, Bacia Hidrográfica Rio Ivaí – Projeto AISA.
Figura 2 – Representação de paisagem envolvendo o Rio Ivaí e encostas adjacentes através de mapa hipsométrico com hillshade, perfil de elevação topográfico, transecto A com pedossequência (classes de solo e capacidade de uso) – Carta E5, Bacia Hidrográfica Rio Ivaí – Projeto AISA.

 

 

Idealizar este tipo de representação auxilia muito os técnicos nos momentos de análise e interpretação dos elementos geopedológicos, sobretudo, na identificação de suas interdependências. Concomitantemente, constitui um instrumento importante no processo de transferência de conhecimento técnico, pois, dependendo da escala. Pode também retratar algumas feições com fidelidade, a exemplo, forma e comprimento de rampa, além de abrir oportunidades para hipotetizar uma série de outros elementos, até mesmo sobre a distribuição de solos.

Na Figura 2, em torno da altimetria 330 metros, a referida carta compreende área de transição entre duas unidades litoestratigráficas, rochas eruptivas – sobrepostas - e arenito – sotoposto. Principalmente por este motivo, o transecto A torna-se muito interessante para análise sobre o ponto de vista geopedológico.

O referido transecto determina uma longa pedossequência – cerca de 7 km – sobreposta em encosta com conformação convexa-divergente dentro de gradiente altimétrico de 80 m, o que incorre em relevos de baixa declividade (Figura 3).

Para a condição de topo desta pedossequência, desenvolvida essencialmente no Arenito Caiuá, identifica-se o Argissolo Vermelho textura arenosa/média em relevo suave ondulado. A constituição arenosa do horizonte superficial, agravada pela presença de gradiente textural em relevo suave ondulado, determina a este solo elevada suscetibilidade à erosão, portanto, uma área de elevada fragilidade. Por estes motivos, a implantação de sistemas de produção agrossilvipastoris neste tipo de solo necessita de manejos criteriosos a fim de evitar o processo erosivo.

Figura 3 - Relevo suave ondulado em rampa convexa-divergente.
Figura 3 - Relevo suave ondulado em rampa convexa-divergente.

 

Figura 4 - Argissolo Vermelho.
Figura 4 - Argissolo Vermelho.

 

A partir daí para jusante ocorrem incrementos importantes da fração argila nos solos, herança relacionada às rochas eruptivas. Assim, em topo subsequente, há o Latossolo Vermelho textura média em relevo plano. No terço médio da encosta persiste o Latossolo, todavia com textura argilosa em relevo suave ondulado. Mais abaixo, mais especificamente no terço inferior, novos acréscimos em argila – Latossolo Vermelho textura argilosa relevo suave ondulado.

A ampliação da fração argila nos Latossolos amplia expressivamente o potencial de uso das referidas áreas, todavia, em função do tamanho da rampa, sobretudo à condição de final de rampa – maior umidade antecedente do solo – existem cuidados a serem observados no sentido de minimizar os efeitos da dinâmica erosional.

Todos os solos que constituem o ambiente de encosta, inclusive o Planossolo Háplico, possuem baixa saturação por bases – distróficos – circunstância que impõe a necessidade de práticas de calagem e adubação, além de adições substanciais de matéria orgânica, todas estas, ações que favorecem a elevação da produtividade e fazem parte de plantios sustentáveis.

Ao final da pedossequência, posicionado em terraço embutido do Rio Ivaí, nova e forte alteração de classe de solo: Planossolo Háplico textura arenosa/média relevo plano. A expressiva presença dos teores de areia enseja fragilidade ao ambiente, a despeito da condição de relevo. Deve ser ressaltado que este solo possui o caráter arênico (textura arenosa até 100 cm de profundidade), além do expressivo gradiente textural, fatores que, respectivamente, para aquelas condições climáticas, proporcionam baixa capacidade de troca catiônica e contínua elevada saturação hídrica.

A fração areia em abundância no Planossolo, em contraponto à textura argilosa do Latossolo à montante fica por conta de sua formação fluvial. Todavia, está essencialmente afinada com o posicionamento de terraço embutido.

Evidente que para a materialização deste tipo de representação conjugada há a necessidade do conhecimento prévio dos elementos de formação da paisagem e, ainda assim, algumas distorções da realidade de campo são inevitáveis sem, contudo, deixar de ser uma boa forma de se proceder a análise de uma região.

 

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Técnica da FAPED – daaalila93@gmail.com

3 – Técnica da FAPED – larissahadassa88@gmail.com