NASCENTES DA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III – BHP III
Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet1, Dalila Peres de Oliveira2, Leonardo Miranda Feriani2
A nascente, ou ainda, surgência hídrica, fonte, mina, olho d´água entre outros termos, designa locais específicos muito importantes para o ambiente em razão do afloramento de água na paisagem (Figura 1). A preservação desses locais, ou mesmo sua recuperação, constituem procedimentos primordiais, pois é a partir da surgência que se verifica a imprescindível disponibilidade d´água para os seres vivos, fato que proporciona a expansão da diversificação da flora e da fauna.
Complementarmente, os elevados volumes de fluxos hídricos superficiais que chegam nesse local, com alta viscosidade, determinam a retirada de grande parte dos horizontes superficiais dos solos das encostas (Figura 5), por vezes carreando todo o solo (Figura 6), descaracterizando totalmente esse tipo de ambiente.
O tema nascente envolve conceitos de diferentes temáticas, o que lhe impõe um certo grau de imprecisão quanto à delimitação da área. Analogamente, a análise e a interpretação técnica rigorosa sobre sua dinâmica “de per si” e em seu entorno, também engloba diferentes áreas do conhecimento (hidrologia, geologia, geomorfologia, pedologia, cobertura vegetacional etc), sobretudo, de forma sistêmica.
Em termos hidrológicos, existem algumas formas de classificar as nascentes. Quanto às suas vazões, podem ser classificadas como de fluxo hídrico perene, intermitente e efêmera. Na primeira constata-se a fluência constante de água, enquanto nas demais há a periodização dos fluxos. As intermitentes são funcionais somente na estação das chuvas e as efêmeras somente após o evento de chuva.
No tocante à distribuição das nascentes e tipos de vazão, é necessário considerar a interdependência que existe entre as condições climáticas, a geologia, a geomorfologia e os tipos de solos. Assim, em função da constituição geológica, a BHP III possui duas províncias geomorfológicas: convexada e patamarizada. A primeira se desenvolve tanto sobre cobertura arenítica como sobre rochas eruptivas, e se caracteriza por exibir declives suaves com amplo domínio dos relevos ondulados e suave ondulados (Figura 7). Nessa província prevalecem os solos profundos (Figura 8) de textura média até muito argilosa, os quais, sob condições naturais, possuem elevado potencial de recarga hidrológica para o aquífero livre, por meio de fluxos hídricos subsuperficiais.
Contrastantemente, na província patamarizada há o predomínio de solos rasos e pedregosos (Figuras 9a e 9b) de textura argilosa a média, acondicionados em relevos forte ondulado e montanhoso. Essas condições imprimem forte predisponibilidade para descargas líquidas superficiais, não privilegiando a constância de fluxos hídricos de subsuperfície, os quais determinam a perenidade de vazão nas nascentes.
Em razão das diferenças supracitadas, entre as províncias existem diferenças marcantes quanto à localização das nascentes e ainda no tocante à perenização ou não de fluxos hídricos.
Na província convexada as nascentes situam-se nos taludes (Figura 10) e nas cabeceiras desses (Figura 11) e, dominantemente, possuem fluxo perene.
Na província patamarizada, além desses locais, se verifica um elevado número de nascentes nas encostas onde se encontram solos rasos (Neossolos Regolíticos e Litólicos), em diferentes conformações geomorfológicas. Fato interessante a ser realçado é que nessa província, além das nascentes perenes, há grande incidência de nascentes intermitentes e efêmeras (Figura 12), justamente pela favorável conjugação - solo raso em relevo acidentado.
Conforme se observa na Figura 13, o número de nascentes perenes no subplanalto São Francisco, onde há o predomínio da província patamarizada, é bem maior que em outros subplanaltos da BHP III, caracterizando a elevada fragilidade de suas encostas sob o ponto de vista hidrológico. A maior coalescência da representatividade das nascentes neste subplanalto reflete o maior número de nascentes (Figura 13).
Por conta dessas variações referidas, os tipos de solos circundantes às nascentes nessas duas províncias são muito distintos, com fortes mudanças nos níveis de hidromorfia. Consequentemente, a composição florística também varia como decorrência dos níveis de água presentes no solo. Com vistas a essas especificidades, nas ações de recuperação de nascentes, onde os plantios arbóreos são efetuados habitualmente, é necessário se saber quais solos se encontram ao redor das nascentes, garantindo a máxima eficiência em desenvolvimento das espécies plantadas.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
1 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br
2 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – dalilap_oliveira@outlook.com
2 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – leonardo.feriani@hotmail.com