NEOSSOLO QUARTZARÊNICO NA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ lll: POSICIONAMENTO NA PAISAGEM, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES

Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet2, Andrei Luan Petry3, João Henrique Caviglione

 

                                               

Os Neossolos Quartzarênicos são solos essencialmente minerais com sequência de horizontes A-C, em textura areia ou areia franca, no mínimo até 150 cm de profundidade (Figura 1).

 

Figura 1 - Neossolo Quartzarênico órtico típico.
Figura 1 - Neossolo Quartzarênico órtico típico.

 

 

Na Bacia Hidrográfica Paraná III (BHPIII) essa classe de solo está restrita ao seu extremo norte, mais especificamente nos subplanaltos Campo Mourão e Umuarama (Figura 2), em paisagens edificadas sobre o capeamento Cretácico - Arenito Caiuá (Figura 3).

 

Figura 2 - Subplanaltos Campo Mourão e Umuarama na BHPIII.
Figura 2 - Subplanaltos Campo Mourão e Umuarama na BHPIII.

 

 

 

Figura 3 - Formação Caiuá na Bacia Hidrográfica Paraná III.
Figura 3 - Formação Caiuá na Bacia Hidrográfica Paraná III.

 

Diferindo da região noroeste do Estado, onde os Neossolos Quartzarênicos são encontrados também nos topos das encostas, pareados aos Latossolos Vermelhos espessarênicos (textura arenosa da superfície até 100 cm), na BHPIII foram registrados somente nas porções finais das encostas, em posicionamento transicional para as planícies fluviais, ou ainda circunscrevendo as nascentes.

Transicionalmente, entre as porções finais das encostas e os rios, foram identificados dois tipos de Neossolos Quartzarênicos - hidromórfico (Figura 4) e órtico (não hidromórfico).

 

Figura 4 - Neossolo Quartzarênico hidromórfico gleissólico.
Figura 4 - Neossolo Quartzarênico hidromórfico gleissólico.

 

 

O primeiro fica situado especificamente na confluência entre a planície e a encosta, normalmente associado a Neossolos Flúvicos gleissólicos (Figura 5) também de textura arenosa. O Neossolo Quartzarênico órtico encontra-se posicionado imediatamente acima do hidromórfico, em pequenas extensões territoriais (Figura 6), abaixo de Latossolo e Argissolo Vermelho-Amarelo. 

Figura 5 - Neossolo Flúvico Tb distrófico gleissólico.
Figura 5 - Neossolo Flúvico Tb distrófico gleissólico.

 

Figura 6 - Aspecto de área com Neossolo Quartzarênico órtico.
Figura 6 - Aspecto de área com Neossolo Quartzarênico órtico.
 

Complementarmente, circunscrevendo às nascentes, prevalece a classe hidromórfica devido à convergência de fluxos hídricos superficiais e subsuperficiais, não sendo raro se deparar com os caráteres espodossólico e planossólico ou mesmo associado a Planossolo Háplico espodossólico (Figura 7). A formação dessas características pode estar relacionada a dois processos: ao carreamento coloidal subsuperficial de matéria orgânica e/ou argila, favorecidos pela convergência de fluxos hídricos, típicos de encostas côncavas-convergentes, ou por soterramento de antigos horizontes em função de processos erosivos.

 

Figura 7 - Planossolo Háplico Tb distrófico espodossólico.
Figura 7 - Planossolo Háplico Tb distrófico espodossólico.

 

 

Para todos os casos supracitados são verificadas ocorrências de pequena expressão geográfica na paisagem, motivo pelo qual constituirão unidades taxonômicas de inclusão no mapa de solos que se efetua nesse momento de toda a Bacia Hidrográfica, escala 1:50.000.

A textura essencialmente arenosa, combinada a localização específica de final de encosta, favorece a lixiviação das bases nos Neossolos Quartzarênicos que, por sua vez, ensejam valores muito baixos para a capacidade de troca catiônica, em caráter de distrofia. Assim sendo, esses solos encontram forte restrição para os usos com agricultura e com pecuária, não sendo raro identificar-se nessas paisagens áreas bem degradadas, com baixa capacidade de resiliência ambiental.

Ademais, os Neossolos Quartzarênicos possuem elevada suscetibilidade à erosão, justamente pela combinação de texturas extremamente arenosas em final de rampa. Deve-se comentar que durante as ações de mapeamento pelas equipes do PronaSolos foram identificadas várias áreas com processos erosivos ativos, a exemplo, em área de nascente, vossoroca com 5 metros de profundidade e 6 a 8 metros de largura, nos primeiros 20 metros a jusante da nascente, incorrendo em torno de 300 m3 de sedimentos, que necessariamente assoreiam as planícies e canais fluviais (Figura 8). Deve-se ter em conta que várias vezes se depara com nascentes com processos erosivos, determinando sérios prejuízos ambientais.

 

Figura 8 - Vossoroca em Planossolo Háplico espodossólico.
Figura 8 - Vossoroca em Planossolo Háplico espodossólico.

 

 

É interessante destacar que os Neossolos Quartzarênicos na BHPIII encontram-se bordejando muitas lâminas d´água, todavia, devido à composição textural (areia ou areia franca) possuem baixa “capacidade filtro”. Esse baixo potencial filtro é facilmente justificado, pois possui no horizonte C uma capacidade de troca catiônica em torno de 3 cmolckg1 de solo, ou menos. Nesse sentido, é essencial a permanência da cobertura florestal circunscrevendo as nascentes, a qual fornece matéria orgânica constantemente ao solo aumentando sua CTC, consequentemente, o potencial de “capacidade filtro”, principalmente no horizonte superficial. Além disso, as raízes promovem a agregação mecânica dos horizontes A e C, altamente predisponíveis ao processo erosivo, resguardando a estabilidade dos meios adjacentes às lâminas d´água.

Pelo exposto, depreende-se que esses solos devam ser destinados à preservação ambiental, cumprindo funcionalidades ecológicas essenciais, relacionadas a fauna, flora e aos processos de recarga/descarga hidrológica.

 

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

1 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br

2 – Técnico do PronaSolos Paraná – andrei_luan_petry@hotmail.com

† – Pesquisador do IDRPR

  • Figura 8 - Vossoroca em Planossolo Háplico espodossólico
    Figura 7 - Planossolo Háplico Tb distrófico espodossólico
    Figura 6 - Aspecto de área com Neossolo Quartzarênico órtico
    Figura 5 - Neossolo Flúvico Tb distrófico gleissólico
    Figura 4 - Neossolo Quartzarênico hidromórfico gleissólico
    Figura 3 - Formação Caiuá na Bacia Hidrográfica Paraná III
    Figura 2 - Subplanaltos Campo Mourão e Umuarama na BHPIII
    Figura 1 - Neossolo Quartzarênico órtico típico
    Figura 8 - Vossoroca em Planossolo Háplico espodossólico
    Figura 7 - Planossolo Háplico Tb distrófico espodossólico
    Figura 6 - Aspecto de área com Neossolo Quartzarênico órtico
    Figura 5 - Neossolo Flúvico Tb distrófico gleissólico
    Figura 4 - Neossolo Quartzarênico hidromórfico gleissólico
    Figura 3 - Formação Caiuá na Bacia Hidrográfica Paraná III
    Figura 2 - Subplanaltos Campo Mourão e Umuarama na BHPIII
    Figura 1 - Neossolo Quartzarênico órtico típico