ORGANOSSOLOS DO SUBPLANALTO CASCAVEL – Características e potencial de uso.
Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet2; Andrei Luan Petry3
Os Organossolos são solos que se caracterizam por serem constituídos preponderantemente por elevadas taxas de matéria orgânica (Figura 1), em diferentes graus de decomposição, assentes sobre camadas minerais de diferentes texturas, ou mesmo sobre rocha. Para que se verifique este acúmulo de matéria orgânica existem duas possibilidades: formação em ambientes altomontanos (grandes altitudes com predomínio de clima frio) (Figura 2), onde não necessariamente se encontram saturados por água, ou sob forte grau de alagamento, normalmente em planícies de rios (Figura 3) ou nascentes.
Para o caso da Bacia Hidrográfica Paraná III, verifica-se esta última opção, ambientes com alagamento existentes em planícies de rios e circunjacências de nascentes (Figura 4). Para que ocorra a formação deste tipo de solo, tanto em rios como em nascentes, é essencial que os fluxos hídricos ocorram de forma difusa e com baixa energia de transporte, além da dependência de elevados e permanentes níveis de alagamento. Satisfeito este contexto, perfaz-se a condição ideal para a existência de plantas (arbóreas, arbustivas ou herbáceas) adaptadas a estes níveis de saturação hídrica, garantindo a adição de substratos orgânicos para a formação dos horizontes hísticos que constituem os Organossolos.
Em condições originais, os Organossolos do subplanalto de Cascavel encontravam-se saturados por água durante a maior parte do ano, configurando um estado praticamente anóxico (sem oxigênio disponível nos poros do solo) que, por sua vez, restringe a mineralização da matéria orgânica. Por este motivo, estes solos se caracterizam por serem pouco evoluídos, com a presença de horizontes hísticos de cores pretas a marrom escuro, assentados sobre horizonte glei – Cg, de textura argilosa. Vale citar que, até o presente momento em que se encontram os levantamentos de solos realizados pelo projeto PronaSolos PR, as espessuras dos horizontes hísticos (horizonte H), somadas, não ultrapassam a espessura de 1 metro, caracterizando a predominância de Organossolo Háplico Sáprico térrico.
Devido à sua composição predominantemente orgânica, Organossolos possuem baixas densidades com elevados percentuais de porosidade, o que determina extrema fragilidade no que se refere a sua estabilidade ambiental. Para sua preservação, é necessário que se mantenha a saturação hídrica do ambiente praticamente de forma permanente garantindo, assim, suas funcionalidades ecológicas, tais como intensa imobilização de dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (NO2), além de garantir ambiente propício ao desenvolvimento de espécies vegetais hidrófilas (herbáceas, arbustivas e arbóreas). A despeito das profundas alterações ocorridas nas áreas florestais originais, no atual levantamento tem-se identificado uma cobertura vegetal mesclada por herbáceas e esparsos indivíduos arbóreos (Figura 5), dos quais destacam-se a embaúba (Cecropia pachystachya Trécul) e o tapiá (Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg.), dentre outras.
Infelizmente, no citado subplanalto, os técnicos do PronaSolos têm registrado fortes níveis de degradação deste solo devido aos intensos processos erosivos, atuais e passados, tanto nas margens de rios como em nascentes, determinando a diminuição das funções ecológicas citadas até aqui. Dentro do contexto atual de uso dos solos desta região, pode-se dizer que os Organossolos constituem uma classe de solo ameaçada de ser extinta.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br;
2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br;
3 – Técnico do PronaSolos Paraná – andrei_luan_petry@hotmail.com