POSICIONAMENTO DE TANQUES DE PISCICULTURA NA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III - TÓPICOS PARA DISCUSSÃO.

Gustavo Ribas Curcio1, Annete Bonnet1, Mauricio Kacharouski2, Marlon Antonio Debrino2

 

A inserção da piscicultura tornou-se uma prática cultural importante para a propriedade rural no Estado do Paraná (Figura 1), pois vai ao encontro da necessidade de diversificação de uso, proporcionando maior estabilidade financeira aos agricultores.

 

Figura 1 - Tanques de piscicultura.
Figura 1 - Tanques de piscicultura.

 

 

Tendo em conta a maior facilidade do manejo da água no processo produtivo, critério essencial no ramo da piscicultura, geralmente os tanques criatórios encontram-se locados nas áreas mais baixas da propriedade, próximos aos cursos d´água (Figura 2). Na Bacia Hidrográfica Paraná III registra-se comumente essa condição, tanto em planícies de rios como em nascentes (Figura 3).

Figura 2 - Tanque próximo de rio.
Figura 2 - Tanque próximo de rio.

 

Figura 3 - Tanque em área de nascente.
Figura 3 - Tanque em área de nascente.
 

Todavia, vem sendo observado nas campanhas do PronaSolos-Pr grande parte dos tanques se encontra instalada em locais impróprios, provavelmente devido à falta de informações e orientação técnica. Geralmente, observam-se os tanques muito próximos aos rios, impactando a largura das florestas e, consequentemente, afetando as múltiplas funcionalidades ecológicas desses ambientes. A construção de tanques de piscicultura muito próxima dos rios (Figura 4), seguramente, acarreta em volumes enormes de sedimentos para as calhas fluviais, incorrendo em aumento da carga de sedimento dos fluxos fluviais. Essa por sua vez, incorre em sérios danos ambientais, como aumento de erosividade de fluxo fluvial, fases de soterramento dos solos das planícies, solapamento de margens fluviais (Figura 5), aumento de queda de árvores (Figura 6) etc.

Figura 4 - Construção de tanques muito próxima de rio.
Figura 4 - Construção de tanques muito próxima de rio.
Figura 5 - Solapamento de margens e queda de árvores.
Figura 5 - Solapamento de margens e queda de árvores.
Figura 6 - Erosão em talude fluvial com queda de árvores.
Figura 6 - Erosão em talude fluvial com queda de árvores.
 

Deve-se ter em mente, que parte representativa das árvores que constituem esse ambiente de floresta fluvial (Figura 7) possui adaptações anatômicas e fisiológicas para suportar a falta de oxigênio nos solos hidromórficos (Organossolos e Gleissolos, Neossolos Flúvicos gleissólicos), ampliando a biodiversidade da Floresta Estacional Semidecidual.

 

Figura 7 - Aspecto da floresta fluvial.
Figura 7 - Aspecto da floresta fluvial.

 

 

De forma mais grave ainda, foram encontradas em algumas propriedades os tanques plotados exatamente na antiga calha fluvial promovendo, seguramente, volumes fantásticos de sedimentos para os rios, a jusante, causando maior viscosidade ao fluxo, necessariamente, ampliando a erosividade do fluxo nas margens fluviais e expondo mais facilmente as raízes das “árvores ribeirinhas” (Figura 8).

 

Figura 8 - Raiz exposta devido à erosividade de fluxo fluvial.
Figura 8 - Raiz exposta devido à erosividade de fluxo fluvial.

 

 

Complementarmente, também é comum o registro de tanques localizados muito próximos das nascentes (figura 9) (olhos d´água) prejudicando o potencial de retenção das descargas hidrológicas, sobretudo quando estão presentes nessas áreas os Organossolos, solos comuns nestes ambientes. Dentre os vários tipos de solos, esses possuem a maior capacidade de reter água, favorecendo a perenidade do fluxo fluvial. Ademais, como apresentam elevada Capacidade de Troca Catiônica, são excelentes, senão os melhores, no desempenho de depuração da água, retenção iônica, além de elevada capacidade de imobilização de gás efeito estufa etc.

 

Figura 9 - Tanque em área de nascente.
Figura 9 - Tanque em área de nascente.

 

 

Sendo assim, torna-se imprescindível a discussão e o aprimoramento do conhecimento técnico-científico das instituições e respectivos técnicos, responsáveis pelo planejamento e construção dos tanques de piscicultura evitando, dessa forma, sérios prejuízos para os sistemas hidrológicos das bacias. Os técnicos devem considerar elementos e processos existentes nas planícies e nascentes tais como tipos de solos, vegetação, fauna, sobretudo quantidade e qualidade de água para consumo. Assim, com a adequada inserção dos tanques na propriedade, a sociedade estará garantindo a pluralização de renda e, concomitantemente, o respeito pelas funcionalidades ambientais – favorecendo a vida!

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br

3 – Técnico do PronaSolos Paraná – mkacharouski@gmail.com

4 – Técnico do PronaSolos Paraná – marlon_debrino@hotmail.com

 

  • Figura 9 - Tanque em área de nascente.
    Figura 8 - Raiz exposta devido à erosividade de fluxo fluvial.
    Figura 7 - Aspecto da floresta fluvial.
    Figura 6 - Erosão em talude fluvial com queda de árvores.
    Figura 5 - Solapamento de margens e queda de árvores.
    Figura 4 - Construção de tanques muito próxima de rio.
    Figura 3 - Tanque em área de nascente.
    Figura 2 - Tanque próximo de rio.
    Figura 1 - Tanques de piscicultura.
    Figura 9 - Tanque em área de nascente.
    Figura 8 - Raiz exposta devido à erosividade de fluxo fluvial.
    Figura 7 - Aspecto da floresta fluvial.
    Figura 6 - Erosão em talude fluvial com queda de árvores.
    Figura 5 - Solapamento de margens e queda de árvores.
    Figura 4 - Construção de tanques muito próxima de rio.
    Figura 3 - Tanque em área de nascente.
    Figura 2 - Tanque próximo de rio.
    Figura 1 - Tanques de piscicultura.