PROCESSOS EROSIVOS EM CABECEIRAS DE DRENAGEM - NOROESTE PARANAENSE

Gustavo Ribas Curcio1

 

Grande parte do Noroeste paranaense é constituída essencialmente por arenitos pertencentes às litoestratigrafias Caiuá, Santo Anastácio e Adamantino – Grupo Bauru – com predominância territorial do primeiro. Desses arenitos derivam paisagens com rampas muito longas e de baixa declividade, muito favoráveis à implantação de sistemas de produção, os quais desempenham relevante papel social e econômico para o Estado (Figuras 1 e 2).

 

Figura 1 - Área de lavoura em Latossolo Vermelho distrófico típico textura média.
Figura 1 - Área de lavoura em Latossolo Vermelho distrófico típico textura média.

 

Figura 2 - Pastagens em relevo suave ondulado na região de Umuarama.
Figura 2 - Pastagens em relevo suave ondulado na região de Umuarama.

 

Os solos da região possuem baixa saturação por bases – distróficos – em textura arenosa e média, fato preponderante para acelerar o processo erosivo, sobretudo quando os solos se encontram mal manejados, ou mesmo, quando a ocupação é excludente ao seu potencial de uso. Nesse contexto destacam-se os solos que possuem expressivo gradiente textural – Argissolos – bem como os essencialmente arenosos – Neossolos Quartzarênicos (Figuras 3 e 4).

 

Figura 3 - Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico típico.
Figura 3 - Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico típico.

 

Figura 4 - Neossolo Quartzarênico fase soterrada.
Figura 4 - Neossolo Quartzarênico fase soterrada.

 

Durante as ações de levantamentos de solos e vegetação fluvial no arenito Caiuá, em grande parte da área, foram registrados processos erosivos intensos (Figura 5), principalmente, nas porções finais das rampas, incorrendo em perdas funcionais importantes para a região como perda da capacidade produtiva dos solos de encosta, assoreamento de rios e planícies, mortalidade de florestas fluviais, entre outros (Figura 6).

 

Figura 5 - Voçoroca em cabeceira de drenagem.
Figura 5 - Voçoroca em cabeceira de drenagem.

 

Figura 6 - Mortalidade da floresta fluvial em rio assoreado no Arenito Caiuá.
Figura 6 - Mortalidade da floresta fluvial em rio assoreado no Arenito Caiuá.

 

Os processos erosionais acentuam-se relevantemente nas encostas de conformação côncava-convergente, devido ao favorecimento à convergência dos fluxos hídricos superficiais e subsuperficiais (Figuras 7 e 8).

 

Figura 7 - Fluxos hídricos em rampa côncava-convergente.
Figura 7 - Fluxos hídricos em rampa côncava-convergente.

 

Figura 8- Fluxos hídricos em rampa côncava-convergente.
Figura 8- Fluxos hídricos em rampa côncava-convergente.

 

Sob o ponto de vista hidrológico, a referida forma de rampa merece destaque em razão da existência das cabeceiras de drenagem, onde alojam-se grande parte das nascentes permanentes com as maiores vazões. Portanto, sobretudo nesse tipo de rampa, o processo erosional coloca em risco a segurança hidrológica da região. Em coerência ilustrativa, as figuras 9 e 10 retratam partes do referido processo: voçorocamento e soterramento.

 

Figura 9 - Voçoroca em cabeceira de drenagem.
Figura 9 - Voçoroca em cabeceira de drenagem.

 

Figura 10 - Gleissolo Melânico fase soterrada.
Figura 10 - Gleissolo Melânico fase soterrada.

 

A dinâmica de soterramento, originado pelo transporte de sedimentos provenientes de solos à montante, implica em sérias mudanças da cobertura vegetal que circunda às cabeceiras de drenagem, muitas vezes ficando totalmente descaracterizadas. No caso da Figura 10, o Gleissolo Melânico encontra-se plenamente soterrado. A mudança do regime hídrico neste caso é função da ampla espessura dos depósitos – em torno de 1,10 m – e da existência da voçoroca presente à jusante (Figura 9), a qual promoveu o rebaixamento do lençol freático localmente.

Consequentemente houve total alteração da característica florestal, com mudanças em seu desempenho funcional, em função da alteração do regime hídrico do Gleissolo – hidromórfico para não hidromórfico. Originalmente a floresta era constituída por espécies hidrófilas – totalmente adaptadas a solos com elevada saturação hídrica e, atualmente, possui apenas espécies arbóreas adaptadas a solos não hidromórficos.

Conclui-se que o planejamento das ações para conter a erosão encontra forte motivação não apenas para garantir a permanência e a produtividade dos sistemas de produção, mas também com vistas a minimizar a perda de funcionalidades ecológicas das Áreas de Preservação Permanente de rios e nascentes.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br