A SATURAÇÃO POR BASES DOS SOLOS DA PROVÍNCIA PATAMARIZADA NA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III - BHP III

Gustavo Ribas Curcio1; João Bosco Vasconcellos Gomes1, Dalila Peres de Oliveira2, Leonardo Miranda Feriani2

Agosto 2021

 

Dentro da BHP III a Província Patamarizada encontra-se representada nos vales dos subplanaltos Cascavel, Campo Mourão, Foz do Iguaçu e São Francisco (Figura 1), sobretudo, neste último onde perfaz a grande maioria das paisagens.

 

Figura 1 – Distribuição dos subplanaltos Cascavel, Campo Mourão, São Francisco, Foz do Iguaçu e Umuarama na BHP III.
Figura 1 – Distribuição dos subplanaltos Cascavel, Campo Mourão, São Francisco, Foz do Iguaçu e Umuarama na BHP III.

 

Geomorfologicamente a província possui aspecto muito peculiar, tendo em vista a presença de vales constituídos por relevos muito discrepantes, incluindo as classes de declive entre 0 a 3% (plano) nas zonas de cimeiras dos platôs (Figura 2) e planícies (Figura 3), até relevos escarpados (≥ 75 %) nas encostas (Figura 4).

Figura 2 – Cumeeira plana ao fundo com Neossolo Regolítico.
Figura 2 – Cumeeira plana ao fundo com Neossolo Regolítico.

 

Figura 3 – Relevo de planície fluvial.
Figura 3 – Relevo de planície fluvial.

As encostas desta província se caracterizam por possuírem uma ou mais rupturas de declive (inflexão), fruto dos processos erosionais atuantes sobre as diferentes unidades geológicas (derrames) que constituem a litoestratigrafia eruptiva regional, denotando claramente a prevalência dos processos morfogenéticos sobre os pedogenéticos. Como resultado, observa-se uma feição bastante peculiar – patamares – constituídos por rampas erosionais e coluvionares, delimitadas por zonas de inflexão e deflexão (Figura 5), não sendo raro a identificação de patamares singularmente equitopográficos (simetrias altimétricas), legitimando o nivelamento dos derrames máficos reafeiçoados por erosão fluvial durante milhões de anos.

Figura 4 - Relevo escarpado com Neossolo Regolítico e Neossolo Litólico.
Figura 4 - Relevo escarpado com Neossolo Regolítico e Neossolo Litólico.

 

Figura 5 – Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.
Figura 5 – Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.

Em função da primazia morfogenética (esculturação do relevo) sobre a pedogenética (desenvolvimento de solo), nas conformações em patamares sobressaem os solos de pequena a média espessura, com texturas variantes - média a muito argilosa - podendo ou não em sua matriz ser evidenciada a presença de pedregosidade/rochosidade em diferentes quantidades.

Discriminadamente, nas rampas erosionais, mais íngremes, ficam evidentes os relevos de conformação heterogênea (divergências laterais convergentes e divergentes), todavia, de alta declividade (forte ondulado, montanhoso e escarpado), onde sobressaem solos com baixo grau de desenvolvimento e com grande quantidade de pedregosidade/rochosidade -  Neossolo Regolítico (Figura 6) e Neossolo Litólico (Figura 7).

Figura 6 - Neossolo Regolítico.
Figura 6 - Neossolo Regolítico.

 

Figura 7 - Neossolo Litólico.
Figura 7 - Neossolo Litólico.

Complementarmente, nas rampas coluvionares, em relevos dominantemente ondulados encontram-se alocados os Nitossolos Vermelhos Eutroférricos (solos com alta saturação por bases e com teores de ferro pelo H2SO4 entre 150 g kg-1 e 360 g kg-1) (Figura 8). Nos locais onde poderiam ser detectados os Chernossolos Háplicos, em razão da degradação do horizonte A chernozêmico (erosão e desestruturação), hoje se encontram os Luvissolos, dentre eles, o Crômico e o Ebânico (Figura 9).

Figura 8 – Nitossolo Vermelho.
Figura 8 – Nitossolo Vermelho.

 

Figura 9 – Luvissolo Ebânico.
Figura 9 – Luvissolo Ebânico.

Diferentes razões justificam o caráter eutrófico predominante nos solos da Província Patamarizada. Assim, como resultado da intensa escalada dos processos erosivos na província, as rampas erosionais representam segmentos da paisagem com alto grau de rejuvenescimento, com consequente exposição dos afloramentos de rochas entre os Neossolos Regolíticos e Litólicos. Em função do basalto (rocha predominante) ser constituído por uma assembleia mineralógica rica em piroxênios, olivinas, e plagioclásios cálcicos, é notável a elevada saturação por bases dos supracitados solos rasos deste segmento (normalmente acima de 80%). Este processo de ressaturação contínua do complexo sortivo destes solos se deve ao elevado grau de intemperismo presente das frações constituintes mais grosseiras – calhaus e matacões – os quais, ininterruptamente, liberam uma alta diversidade e quantidade de cátions. Ao encontro deste processo de reionização, há de se considerar ainda que os adelgaçados volumes têm muito próximo da superfície os contatos líticos e fragmentários, condição que expõe mais superfícies para liberação de íons frente ao avanço intempérico das rochas.

Nas rampas coluvionares - a jusante das erosionais - os processos intrínsecos que favorecem a alta saturação dos Nitossolos e Luvissolos são complementados pelos constantes aportes iônicos provindos das rampas erosionais, seja através de leques de dejeção de sedimentos, ou por soluções ionizadas que transitam subsuperficial e superficialmente em “pulsos temporários”. 

Do exposto, depreende-se uma consideração importante para o agricultor em termos de uso sustentável das paisagens. Se por um lado, é muito difícil usar de forma sustentável os Neossolos Litólicos e Regolíticos em função dos fatores pedregosidade/rochosidade, pequenas espessuras e elevadas declividades, por outro, o produtor pode alocar diferentes sistemas de produção nas superfícies de deflexão para que possam recepcionar os íons das paisagens de montante, mais precisamente, das rampas erosionais. Nas superfícies de deflexão já se observam boas profundidades efetivas de solos, além de elevados níveis de umidade nos solos provenientes dos fluxos hídricos superficiais e subsuperficiais dos Neossolos, condições excepcionais que favorecem usos diversificados com alto rendimento. Assim, podem aí ser planejadas a instalação de capineiras em linhas, silvicultura com arbóreas nativas de alto valor, plantas medicinais, olerícolas entre tantas outras oportunidades.

Estes plantios, alocados precisamente conforme citado, sem dúvida, além de privilegiar a sua produção e auxiliar na contenção dos processos erosivos encosta abaixo, seria mais uma forma de o produtor reter dentro de sua propriedade agrícola o “cerne de seu patrimônio” – os íons.

 

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br

1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – jbvgomes@gmail.com

2 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – dalilap_oliveira@outlook.com

2 – Bolsista da Sec. Ciên. Tec. Pr – leonardo.feriani@hotmail.com

GALERIA DE IMAGENS

  • Cumeeira plana ao fundo com Neossolo Regolítico.
    Distribuição dos subplanaltos Cascavel, Campo Mourão, São Francisco, Foz do Iguaçu e Umuarama na BHP III.
    Relevo de planície fluvial. Figura 3 – Relevo de planície fluvial.
    Relevo escarpado com Neossolo Regolítico e Neossolo Litólico.
    Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.
    Neossolo Litólico.
    Neossolo Regolítico.
    Nitossolo Vermelho.
    Luvissolo Ebânico.
    Cumeeira plana ao fundo com Neossolo Regolítico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Distribuição dos subplanaltos Cascavel, Campo Mourão, São Francisco, Foz do Iguaçu e Umuarama na BHP III.
    Relevo de planície fluvial. Figura 3 – Relevo de planície fluvial.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Relevo escarpado com Neossolo Regolítico e Neossolo Litólico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.Rampas erosionais e coluvionares, superfícies de inflexão e deflexão em Província Patamarizada.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Neossolo Litólico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Neossolo Regolítico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Nitossolo Vermelho.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio
    Luvissolo Ebânico.
    Foto: Gustavo Ribas Curcio

    Foto: Gustavo Ribas Curcio