SUBPLANALTOS CASCAVEL E SÃO FRANCISCO: algumas diferenças sob os pontos de vista geomorfológico e pedológico.
Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet2
A Bacia Hidrográfica Paraná III possui conformações específicas no que se refere à constituição geomorfológica e se encontra subdividida em quatro subplanaltos.
Os subplanaltos Cascavel e do São Francisco são exemplos claros dessa assertiva. No entanto, dentro desses subplanaltos existem diferenças importantes sob o ponto de vista de solos - características e distribuições nas paisagens. Essas diferenças estão sendo separadas no PronaSolos Paraná através da criação de duas províncias – Convexada e Patamarizada.
Embora no Subplanalto de Cascavel ocorram as duas províncias, há o predomínio de feições geomórficas suaves, inseridas na Província Convexada. Essa é constituída por amplos interflúvios onde se verificam encostas longas, compreendendo dominantemente três formas de rampa: convexa-divergente (Figura 1), côncava-convergente (Figura 2) e convexa-retilínea (Figura 3). Essas conformações são muito importantes no entendimento de vários processos, a exemplo, deslocamentos dos fluxos hídricos superficiais, consequentemente dos processos erosivos.
Nessas encostas as variações de declividade acontecem de forma tênue e gradual, sem a presença de rupturas de declive abruptas. Nessa província há o predomínio absoluto de solos minerais com alto grau de desenvolvimento - Latossolo Vermelho (Figura 4), em declividades que variam de plano a ondulado.
Com menor expressão, registra-se o Nitossolo Vermelho (Figura 5), normalmente nas porções finais das rampas, quase sempre em situações onde as encostas assumem a conformação côncava-convergente (Figura 6).
No Subplanalto São Francisco prevalece a Província Patamarizada. Nessa coexistem feições de relevo muito discrepantes, desde plano (0 a 3 % de declive) nas cumeeiras e planícies (Figura 7), até escarpado (≥ 75 %) nas encostas (Figura 8).
Os interflúvios são compostos por encostas que possuem uma ou mais rupturas de declive, essas retratando, normalmente, a estrutura geológica frente aos processos erosionais. As encostas possuem a forma de patamares, englobando superfícies erosionais e coluvionares, separadas por zonas de inflexão e de deflexão (Figura 9).
Dado o prevalecimento de processos morfogenéticos sobre os pedogenéticos nessa província, em geral, evidenciam-se solos de menor espessura e com menor grau de desenvolvimento.
Assim, nas superfícies erosionais evidenciam-se relevos de alta declividade (forte ondulado, montanhoso e escarpado), onde encontram-se solos com baixo grau de desenvolvimento - Neossolo Litólico (Figura 10) e Regolítico (Figura 11). Nas superfícies coluvionares, onde predominam os relevos ondulados, distribuem-se solos com médio grau de desenvolvimento – Nitossolos Vermelhos (Figura 12) e Chernossolos Háplicos ou Argilúvicos (Figura 13).
A presença de Latossolos nessa província é muito localizada, alcançando pequena expressão geográfica (Figura 14).
Se por um lado verificam-se menores espessuras e menores teores de argila nos solos da Província Patamarizada, por outro, são registradas melhores condições do complexo sortivo, a exemplo, maior saturação por bases e maior CTC – Capacidade de Troca Catiônica.
Essas distinções quanto às feições geomorfológicas e pedológicas impõem potenciais de uso dos solos bem discrepantes para as duas Províncias. O desafio encontra-se em identificar as melhores formas de uso das paisagens considerando essas diferenças entre as duas Províncias.
Sem sombra de dúvida, a utilização do componente florestal através de plantios homogêneos ou mistos, utilizando-se de espécies nativas ou exóticas, seria uma realidade para os solos de ambas as províncias e, infelizmente, isso não vem sendo identificado em escala ao longo da Bacia Hidrográfica, mesmo com a forte demanda de elementos florestais pela propriedade rural.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br