VEGETAÇÃO NATIVA DO ESTADO DO PARANÁ - GUAJUVIRA
Gustavo Ribas Curcio1; Annete Bonnet2; Andrea Kodama3, Mauricio Kacharouski3
A Floresta Estacional Semidecidual (FES) é rica e exuberante, embora seja a unidade fitogeográfica florestal que reúna a menor diversidade arbórea no Estado do Paraná. Possui indivíduos arbóreos que podem alcançar alturas em torno de 40 metros (Figura 1), algumas vezes dando suporte para epífitos de grande beleza (Figura 2).
A Bacia Hidrográfica Paraná III - BHP III - onde estão sendo realizados os levantamentos de solos e vegetação do projeto PronaSolos Paraná, em sua grande maioria é recoberta exclusivamente por esta unidade fitogeográfica, à exceção das regiões mais elevadas situadas no subplanalto Cascavel. Nessas, em altimetrias aproximadamente entre 500 a 700 metros, verifica-se uma zona de contato entre unidades fitogeográficas – ecótono – entre a FES e a Floresta Ombrófila Mista (FOM). Neste ecótono tinha-se originariamente no dossel da floresta representantes característicos de cada unidade, respectivamente, peroba (Aspidosperma polyneuron) e o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).
Dentre as inúmeras espécies arbóreas típicas da FES, a guajuvira ou guaiabira - Cordia americana, família das boragináceas, é uma das que se destacam por sua beleza, além de seu amplo potencial de uso (Figura 3). Sua área de ocorrência no Brasil é vasta, sendo identificada nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Essa espécie semicaducifólia de crescimento lento pertence ao grupo sucessional secundária inicial/tardia, podendo atingir a altura de 25 a 30 metros. Suas flores de coloração branca ou bege são melíferas e surgem na primavera na forma de cachos, condição que determina bom potencial paisagístico para a espécie. Esse potencial se deve também a sua bela folhagem verde lustrosa (Figura 4). Seus frutos de coloração amarela a marrom claro indicam maturação pronta para a semeadura e produção de mudas. A dispersão da espécie se dá tanto por gravidade (barocórica) ou pelo vento (anemocórica).
Possui madeira dura e muito durável com casca interna de coloração creme (Figura 5), mesmo quando se encontra submersa em água ou enterrada no solo. Além de amplo emprego na construção civil, também é utilizada para moirões, remos, tacos de bilhar e golfe, cabos de ferramentas, entre outros usos. Vale citar que os índios a utilizavam para confecção de arcos para caça por possuir boa elasticidade.
Para cabo de ferramentas é interessante notar que devido a sua característica peculiar de possuir engalhamento verticalizado (Figura 6), ocorre um forte rebrotamento vertical de galhos, os quais podem ser utilizados para cabos de ferramentas, a despeito do peso.
Pode ser utilizada para projetos de paisagismo tanto em cidade como em meio rural, além de ser recomendada para plantios de múltiplos usos devido às características de sua madeira. Atualmente sua distribuição está restrita ao redor de edificações e, principalmente, em pastagens proporcionando sombra para o gado, apesar da semicaducifolia.
Durante as ações de mapeamento do PronaSolos a espécie foi identificada comumente em solos de encosta, predominantemente bem drenados (não-hidromórficos), com fortes variações de espessura, textura e saturação por bases. Assim, foi identificada desde Latossolos e Nitossolos Vermelhos, profundos e muito argilosos, ambos eutróficos, até sobre solos de textura arenosa/média com baixa saturação por bases – Argissolo Vermelho e Argissolo Vermelho-Amarelo. Também foram identificados indivíduos com porte robusto, muito desenvolvidos, sobre solos rasos, pedregosos e com alta saturação por bases – Neossolos Regolíticos e Litólicos, fato que comprova a habilidade do sistema radicial da espécie em meio aos volumes saprolíticos. A despeito da maior resistência à penetração das raízes em profundidade nesses volumes, deve-se ter em conta que há uma compensação nutricional pelo fato de se ter uma maior concentração de nutrientes nesses ambientes.
Nas planícies a espécie foi registrada apenas em diques marginais fluviais soerguidos (Figura 7), situação que condiciona a boa drenagem dos Cambissolos Flúvicos e Neossolos Flúvicos. Para estes casos, especificamente, chamou a atenção a grande quantidade de raízes presentes nos indivíduos, determinando intensa proteção contra a erosividade do caudal fluvial, o qual promove o desbarrancamento das margens. Por este motivo, no intuito de estabelecer maior diversidade de espécies e respectivas funcionalidades ecológicas, recomenda-se o plantio em matas fluviais para proteção de diques marginais, desde que plantada em solos não hidromórficos.
Embora tenha um crescimento lento a moderado, recomenda-se a espécie para plantio de forma planejada na propriedade rural, favorecendo a pluralização da flora arbórea e a possibilidade de usos para a propriedade.
1 – Pesquisador da Embrapa Florestas – gustavo.curcio@embrapa.br
2 – Pesquisadora da Embrapa Florestas – annete.bonnet@embrapa.br
3 – Técnica do PronaSolos Paraná – andrea.kodama@colaborador.embrapa.br
3 – Técnico do PronaSolos Paraná – mkacharouski@gmail.com