Cedraf discute rumos do PAA após ação da Polícia Federal 15/10/2013 - 15:20
O PAA, programa que existe há 10 anos, foi interrompido desde a ação da Policia Federal “Agrofantasma” deflagrada no final de setembro que culminou com a prisão de 12 pessoas entre servidores da Conab e agricultores familiares. As entidades que compõem o Cedraf consideraram as prisões injustas e defenderam a liberação imediata das pessoas envolvidas sob a argumentação que não houve má fé na operacionalização do programa.
Elas defendem também uma reformulação nos programas para que agricultores e servidores tenham mais garantias na operacionalização. “O programa corre o risco de parar porque agricultores e servidores estão temerosos em continuar com as compras”, disse o porta-voz das entidades José Antonio Marfil.
O PAA no Paraná aplica em torno de R$ 40 milhões por ano em compras de alimentos produzidos pela Agricultura Familiar, programa que beneficia em torno de 10 mil pequenos agricultores que recebem em média R$ 4 mil cada por ano. Na maioria são pequenos produtores que antes produziam apenas para subsistência e que com essa política pública tiveram acesso à comercialização de mercado.
O PAA é um programa do governo federal que compra os alimentos dos agricultores familiares e os repassa às entidades de cunho social como escolas, creches, asilos, beneficiando cerca de três milhões de pessoas no Estado. Na mesma linha do PAA, o governo federal promulgou a lei que institui o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), obrigando Estados e municípios a comprarem um mínimo de 30% da merenda escolar em produtos da Agricultura Familiar, que tem melhorado muito a qualidade da alimentação oferecida nas escolas.
Durante a reunião, o superintendente interino da Conab, Erli Ribeiro fez um relato do caso, acentuando as dificuldades enfrentadas com a falta de pessoal e de atribuições do órgão para fiscalizar o programa. “Sempre atuamos como orientadores dos agricultores e das entidades e não como fiscalizadores”, afirmou. A empresa pública tem a atribuição de supervisionar o programa e não fica com os recursos repassados pelo governo federal porque eles são depositados diretamente na conta das entidades, explicou.
Os dirigentes das entidades da Agricultura Familiar, presentes à reunião, foram unânimes na defesa dos envolvidos na ação da Polícia Federal, ressaltando que se ocorreram irregularidades elas correspondem à substituição dos produtos entregues pelas entidades da Agricultura Familiar constituídas que são as cooperativas de agricultores. Todos sabem que a Agricultura tem peculiaridades e depende de clima. Se no momento de cumprir o contrato, o agricultor não tinha todo o produto para entregar ou ele recorria ao produto do vizinho ou então entregava outro produto no mesmo valor. “Mas nunca deixaram de entregar ou utilizaram os recursos em proveito próprio”, disse Ribeiro.
Medidas
Os conselheiros do Cedraf aprovaram por unanimidade uma moção de apoio aos servidores e agricultores envolvidos e de repúdio as ações da Polícia Federal e do Ministério Público. O secretário da Agricultura e do Abastecimento e presidente do Cedraf, Norberto Ortigara, assumiu a responsabilidade de encaminhar a defesa dos envolvidos à Defensoria Pública.
Para Ortigara, tanto o PAA como o PNAE são dois importantes programas de inclusão social no campo e ele tem insistido com os prefeitos e secretários municipais de Agricultura que não comprem somente 30% em produtos da Agricultura Familiar para os programas sociais. “Essa compra tem que ser de 100% em produtos da Agricultura Familiar. Só assim poderemos ajudar o pequeno agricultor a acessar o mercado”, defendeu.
A moção aprovada defende a liberação imediata de 11 pessoas que ainda estão detidas. E que os programas sejam repensados e ajustados de forma que possam continuar atendendo a Agricultura Familiar, com o fortalecimento dos mecanismos de gestão das entidades para operacionalização do programa.
Os dirigentes das entidades condenaram a execração pública dos servidores da Conab e agricultores familiares, acentuando que se houve avanços nas políticas de inclusão elas não foram acompanhadas de ajustes nos marcos legais que ainda permanecem defasados, o que motivou a ação da Polícia Federal que enquadrou os agricultores como potenciais criminosos.
O deputado estadual Professor Lemos participou da reunião do Cedraf.