Produtor do Paraná é campeão de produtividade de soja 16/07/2020 - 13:45
O produtor rural Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, obteve a maior produtividade de soja do país. Na safra 2019/2020, ele colheu 118,82 sacas por hectare, uma façanha considerável, levando-se em conta que a produtividade média das lavouras brasileiras é de 50 sacas por hectare. O produtor paranaense participou do concurso "Desafio Nacional de Máxima Produtividade da soja", realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), que reuniu produtores de todo o país.
O segredo, segundo o produtor, foi investir no solo e monitorar a lavoura, sempre com o apoio da assistência técnica do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná- Iapar-Emater). Esta foi a primeira vez que o Cesb premiou um produtor que conseguiu grande produtividade sem usar inseticida na lavoura.
Há cinco anos, o agricultor participa do "Desafio de Máxima Produtividade" do Cesb. "Ano após ano eu vinha fazendo testes em minha propriedade para tentar conseguir algum resultado diferente. No começo eu tirava um pequeno talhão e não olhava os custos. Eu tinha na minha mente que, para colher bastante, precisava investir bastante. Mil quilos de adubo por alqueire. Aparecia um bichinho já aplicava produto. A soja vinha bonita até uma altura, mas chegava ao final e 40% dos pés morriam por doenças radiculares, que não têm controle fúngico. E os grãos ficavam pequenos, não rendia", conta o produtor.
Dalla Vecchia percebia que faltava algo, mas não sabia o quê. A partir de conversas com outros produtores e técnicos, identificou que o problema estava no solo. " Eu me preocupei com detalhes e produtos, mas não me atentei ao básico na agricultura. Ou seja, não estava dando atenção às premissas do plantio direto: menor revolvimento possível do solo, maior cobertura de plantas, com pelo menos oito toneladas de palhada por hectare, rotação de culturas, cuidado com a nutrição do solo”, ressalta.
INFORMAÇÃO - Ter informação na hora de tomar decisões na propriedade foi muito importante para Dalla Vecchia. Ele se mantém atento ao que dá certo ou errado em outras propriedades do Brasil inteiro, pois faz parte de vários grupos de produtores. Além disso, participa constantemente dos cursos oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Mas o agricultor destaca a importância do IDR-Paraná, que acompanhou todo o seu trabalho ao longo dos últimos anos.
"É muito importante, em especial o Luiz Pasquali, que me ajuda muito na tomada de decisão, me orientando, pensando o ano inteiro na lavoura de soja", observa. Dalla Vecchia acredita que foi durante as conversas, visitas e encontros com o extensionista que ele resolveu mudar o jeito de lidar com a lavoura.
Pasquali, que atua no IDR-Paraná de Chopinzinho, lembra que o trabalho na fazenda de Dalla Vecchia começou em outubro de 2018 com a instalação de um coletor de esporos. Naquele ano, a parceria entre Senar, Embrapa e os então Iapar e Emater, deu início ao manejo de pragas e doenças na fazenda do produtor.
"Focamos o trabalho em três princípios de produtividade, que são as condições químicas, físicas e biológicas do solo. Não existe produtividade sem termos a biologia do solo trabalhando, sem a parte física de solo sendo tratada com muita qualidade e a química, onde se faz a quantificação e o equilíbrio de nutrientes", destaca Pasquali.
PROJETO GRÃOS - Ao todo, a fazenda de Dalla Vecchia possui 190 hectares de lavouras, e o talhão vencedor do Cesb não teve nenhuma aplicação de inseticida. "Não só economizei dinheiro, como obtive um resultado incrível, isso só com monitoramento”, comemora o produtor. A produtividade média de toda a propriedade superou as 90 sacas por hectare.
Ela é uma Unidade de Referência do Projeto Grãos, do IDR-Paraná, desenvolvido em parceria com a Embrapa Soja, Senar e Universidades.
"Esse projeto prega que a sustentabilidade do sistema de produção de grãos passa pela adoção de boas práticas agrícolas, que é fazer o básico bem feito. Isso demonstra que a agricultura é feita por processos e não de produtos", explica Edivan Possamai coordenador estadual do projeto que atualmente conta com 250 URs em todo o estado. "É possível produzir soja, milho, feijão ou trigo, adotando essas boas práticas e convertendo em ganhos para o produtor,com maior rentabilidade e também para a sociedade com o menor uso de agrotóxico",
Para ele, a vitória de Dalla Vecchia quebra o paradigma de que são necessários altos investimentos em fungicidas e inseticidas para se ter boa produtividade na cultura da soja. "O Laércio conseguiu esse prêmio adotando o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o Manejo Integrado de Doenças (MID). Isso demonstra que essas tecnologias não comprometem a produtividade e, inclusive, conseguem altos tetos produtivos", ressalta.
Nelson Harger, diretor de Extensão Rural do IDR Paraná, destaca que a principal razão do sucesso do produtor foi o seu empenho. "O Laércio faz tudo no capricho. O plantio conforme a recomendação para a cultivar. Escolhe uma cultivar adaptada para sua realidade de clima e solo. Usa insumos somente quando é necessário. Ele cuida com capricho do solo. Ele é um agricultor que tem essa visão de produzir bastante e ter retorno financeiro alto, respeitando o meio ambiente, que é cuidar do solo, evitar erosão e uso excessivo de produtos químicos. Ele é um produtor moderno que produz bastante com sustentabilidade", diz.
O Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) é formado por profissionais e pesquisadores que estimulam produtores a desenvolver práticas inovadoras de cultivo, possibilitando extrair o potencial máximo da cultura da soja, com sustentabilidade e rentabilidade. O prêmio de produtividade máxima é realizado desde 2008 e envolve produtores de todo o país.